01/11/2006 - 10:00
Os aparelhos individuais com fone de ouvido revolucionaram a forma de ouvir música. A moda começou na década de 80, com o lançamento do walkman. Depois veio o diskman e finalmente os tocadores de MP3. A necessidade cada vez maior do ser humano de ter no cotidiano uma trilha sonora particular é um dado a ser estudado. Por enquanto, o que mobiliza os pesquisadores é o impacto negativo do uso inadequado desses equipamentos sobre a audição. O mais recente trabalho do gênero revela que os tocadores de música portáteis podem causar danos auditivos a longo prazo para quem ouve música em alto volume por um tempo prolongado. Segundo a pesquisa, feita na Universidade do Colorado e do Children´s Hospital, nos EUA, ouvir música a 80% do volume máximo por mais de 90 minutos por dia pode levar a sérios problemas.
O risco principal é o dano que o som elevado pode causar às estruturas do ouvido interno. Em especial, à cóclea, uma estrutura parecida com um caracol. Sua principal função é a percepção do som. “Submetidas a sons de alta intensidade, as células sensoriais da cóclea sofrem lesões que podem levar a zumbidos e à diminuição auditiva para os sons agudos, que poderão surgir ao longo do tempo”, explica o médico Luiz Carlos de Sousa, presidente da Sociedade Brasileira de Otologia. O uso de fones no ouvido piora o risco. “Como a música é fonte de prazer, as pessoas toleram níveis sonoros altos por mais tempo. E nem passa pela cabeça dos jovens que possa ser um risco”, observa Sousa, que lidera uma campanha nacional pela saúde auditiva.
O trabalho americano sugeriu regras para desfrutar o som com segurança. De acordo com o audiologista Brian Fligor, do Children’s Hospital, os participantes que ouviram música todo dia sem ultrapassar 50% da capacidade máxima dos aparelhos não tiveram danos. Portanto, esse seria um limite seguro. A saída para proteger os ouvidos de pessoas que gostam do som mais alto é regular o som a 70% do volume máximo por até quatro horas e meia por dia sem muito risco. Querendo mais potência sonora, não se deve ultrapassar 90 minutos com volume a 80% do máximo. Mas há recomendações mais rigorosas. “O ideal é usar, por dia, 60% do volume total por 60 minutos”, afirma o médico Luiz Carlos de Sousa.
Não há dúvida de que o tema pertence ao campo da saúde pública. Nos Estados Unidos, conforme dados publicados no jornal Pediatrics, mais de cinco milhões de jovens têm perda auditiva promovida especialmente pelo ruído de concertos de rock, tocadores de MP3 e cortadores de grama, entre outros. E o pior é que para cerca de 250 mil os danos já são definitivos. Ciente da ameaça, o governo da França estipulou em 100 decibéis o limite máximo de volume dos tocadores de MP3 vendidos no país. A Apple, fabricante do iPod, adaptou os produtos para o mercado francês. A empresa também lançou em março a atualização de software para o iPod Nano e para a quinta geração do produto que permite aos pais usar um código e uma senha para limitar o máximo de volume usado pelos filhos.