Será no dia de Todos os Santos, 1º de novembro, que, se eleito, o presidente Lula começará a delinear a cara de seu novo governo. Ele tem pressa. Não quer esperar o foguetório do réveillon para anunciar o time com o qual jogará nos próximos quatro anos. Muitos candidatos ao novo Ministério estão de sobreaviso. A ex-prefeita Marta Suplicy é um desses nomes. Ela trabalha nos bastidores para assumir a Educação. A Pasta terá um orçamento privilegiado, uma vez que Lula elegeu o setor como prioridade de seu segundo governo. Além do trabalho realizado na coordenação da campanha em São Paulo, ela apresenta suas principais credenciais: os Centros Educacionais Unificados (CEUs), escolas modernas, com cinema, teatro, laboratório de informática, piscinas e quadras poliesportivas que são abertas à comunidade nos fins de semana.

Um outro nome que está de prontidão é o do atual presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli. Ele, que tem como padrinho o governador eleito da Bahia, Jaques Wagner, está sendo cotado para assumir a Fazenda no lugar de Guido Mantega, que se expôs durante a eleição e contrariou setores importantes do empresariado. Gabrielli é um economista, com doutorado nos EUA, que tocará o principal ponto da agenda mínima que será proposta a aliados e oposição: crescer 5% já a partir de 2007. Ele caiu nas graças do presidente e da poderosa ministra da Casa Civil, Dilma Rouseff, pela forma como pilotou a crise do gás com a Bolívia.

Aliás, Dilma continuará com força total. “Dilma sabe, por exemplo, que telefone foi feito para dar e cobrar ordens”, disse a ISTOÉ um poderoso aliado de Lula fora dos quadros do PT. Já Guido Mantega, amigo de Lula, voltaria para o Planejamento e o atual titular da Pasta, Paulo Bernardo, assumiria a presidência da Caixa Econômica Federal.

Um sinal de que Lula está disposto a não passar para a história como um presidente omisso é a decisão, quase fechada, de que Ciro Gomes, ex-ministro da Integração Regional e deputado federal mais votado do País pelo PSB, vai assumir a pasta da Saúde. A missão de Ciro será barrar a corrupção dentro do Ministério e pôr em pratos limpos os escândalos que, apesar de terem começado na administração do antecessor FHC, recaíram sobre Lula. Outra determinação presidencial importante é melhorar o atendimento não somente na rede federal, mas fiscalizar o uso dos repasses dos SUS nos Estados e municípios.

Mas nem tudo são flores na composição do novo time. O baiano Gedel Vieira Lima, aliado de última hora do PT e de Jaques Wagner, está na cota do PMDB governista para assumir a pasta que foi de Ciro: a Integração Regional. Mas o apetite do PMDB, que elegeu a maior bancada federal (90 deputados), não pára por aí. Escorado nessa representação, o partido está disposto a brigar também pelos ministérios das Cidades, dos Transportes e da Justiça. Como se não bastasse, quer ainda as presidências da Petrobras, do Senado e da poderosa Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.

Quem joga duro para aumentar o espaço do PMDB governista na nova gestão batizada de coalizão são os senadores José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL). É dado como certo que Jader Barbalho, eleito deputado federal pelo Pará, será um interlocutor de Lula seja na Câmara, como presidente da Casa, seja como ministro dos Transportes. O presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer, que quase não se reelegeu e ainda apoiou o tucano Alckmin, terá espaço reduzido no governo.

No PMDB, a unanimidade é difícil de se obter. No entanto, quem mais chega perto dela é o ex-ministro do STF Nelson Jobim. Ele, da ala autêntica do partido, chegou a ser cotado para ser vice de Lula. Jobim tem interesse em assumir o lugar do poderoso Márcio Thomaz Bastos, que já avisou a Lula que quer deixar o governo. À frente do Ministério da Justiça, Márcio foi o escudeiro do presidente, principalmente quando espocaram os escândalos do mensalão e da quebra do sigilo do caseiro Francenildo. Caso se confirme a previsão, Jobim ocupará pela segunda vez a Pasta. Ele foi ministro da Justiça no governo Itamar.

Outro petista novo que entrará na esplanada é da cota pessoal de Lula. Trata-se de Luiz Eduardo Greenhalgh, que não conseguiu se eleger deputado federal por São Paulo. A secretaria de Direitos Humanos seria uma espécie de prêmio de consolação para o companheiro paulista. Muito mais pelo que representou no passado, quando advogou para o sindicalista Lula do que pelo que fez na história recente. Foi graças às trapalhadas de Greenhalgh, que insistiu em bater chapa com o também petista Virgílio Guimarães na disputa para presidente da Câmara, que Severino Cavalcanti se elegeu para o terceiro cargo na linha sucessória. O maior problema de Lula será compor a equipe que vai tocar o Ministério da Reforma Agrária. A Confederação dos Trabalhadores da Agricultura (Contag) quer indicar o ministro. Ele sairia de seus quadros. Por outro lado, Lula não está disposto a abrir mão do atual dono da cadeira, Miguel Rosseto. O que dá musculatura a Rosseto, representante de uma tendência mais à esquerda do PT, foi ter contido o MST. O trabalho desenvolvido junto à campanha de Lula no Rio Grande do Sul no segundo turno também é uma credencial para que seja mantido no cargo. Com essa nova roupagem, Lula quer sinalizar que seu segundo governo não será um aparelho partidário, e mais ainda: não será uma continuidade do primeiro mandato, marcado por escândalos e desmandos éticos.