10/10/2007 - 10:00
O problema da segurança pública no Brasil ganhou tons apocalípticos no último relatório da ONU sobre violência nas cidades. Entre as conclusões do documento, há itens aterrorizantes: São Paulo tem 1% dos homicídios do mundo, quase 50 mil pessoas foram assassinadas nas favelas cariocas em 22 anos e os brasileiros são o povo do planeta que mais teme a violência. O texto faz comparação entre a criminalidade de São Paulo e Nova York, informando que em 1999 a capital paulista registrou 17 vezes mais homicídios que a cidade americana. O Rio de Janeiro aparece com 45 assassinatos por 100 mil habitantes em 2001, quase o dobro da taxa do continente.
Não há dúvida que a criminalidade no País ultrapassou há tempos o nível do tolerável. Mas o documento da ONU chamou a atenção dos especialistas no tema, que contestam vários dados. “Não há estatísticas confiáveis sobre o total de assassinatos no mundo. Como checar se São Paulo tem realmente 1% dos homicídios?”, questiona o sociólogo Ignácio Cano, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Ele afirma que os registros da polícia carioca não determinam se uma pessoa morreu em uma favela ou não. “Os documentos falam apenas em bairro”, explica Cano. Por isso, ele argumenta que é impossível estabelecer um número, como fez o relatório. Ex-secretário Nacional de Segurança Pública, José Vicente da Silva Filho também critica o documento. “A pesquisa é ruim. Justamente quando São Paulo tem uma queda histórica no nível de homicídios, cita dados antigos, de 1999”, afirma.
Representante do Programa para Assentamentos Humanos da ONU, Adalberto Paranhos observa que a entidade não fez uma pesquisa. “É uma compilação de 200 estudos sobre violência oriundos de várias partes do mundo. São informações de governos, do noticiário e das universidades”, diz. Esse é um grande problema do relatório. Especialistas acham difícil conciliar tantos trabalhos diferentes. “A partir de que estatística concluíram que o brasileiro tem mais medo da violência que outros povos? Não sei como se mede isso”, critica Cano. Já Silva Filho ataca a defasagem do levantamento. O representante da ONU argumenta. “Não dizemos que os dados são atuais”, afirma Paranhos. O sociólogo da Uerj acha que qualquer alerta nesse campo é bem-vindo, mas ressalva: “As pesquisas têm que valer pela qualidade dos números, não pela entidade que as divulga”, diz.