Talese: estilo detalhista para falar da mística por trás do jornal

Em 1896, quando o judeu alemão Adolph Ochs adquiriu The New York Times por US$ 75 mil, o jornal estava dando um prejuízo diário de US$ 1 mil, publicando folhetins e histórias escandalosas baseadas em fofocas. Ochs resolveu transformá-lo, então, no testemunho imparcial de seu tempo. No veículo de comunicação que desse “as notícias, todas as notícias, de forma concisa e atraente, em linguagem polida”. Ao morrer em 1935, com 77 anos, era proprietário do jornal mais rentável e de maior credibilidade do mundo ocidental. A história desta instituição familiar é dissecada pelo jornalista e escritor Gay Talese em O reino e o poder – uma história do New York Times (Companhia das Letras, 560 págs., R$ 39) com toda a acuidade e detalhismo próprios de seu estilo. Baseado numa infinidade de entrevistas, livros raros e, principalmente, na experiência de Talese como timesman – apelido dos jornalistas da casa –, o livro recria a atmosfera quase sagrada da redação do NYT.

Como todo reino, o NYT era dividido em feudos. Durante anos, a sede em Nova York e a sucursal de Washington disputavam o poder a ponto de os respectivos chefes nem sequer se falarem, embora fossem timesmen até a medula. Acima de tudo era um estilo de atuar profissionalmente. Para definir este espírito que manteve coesa a empresa erguida por Ochs, o autor cita a filha do fundador, Iphigenia Ochs Sulzberger, que costumava repetir a parábola sobre os três cortadores de pedras. Assim dizia: perguntados sobre o que faziam, o primeiro trabalhador respondeu “estou quebrando pedras”; o segundo, “estou fazendo uma pedra angular”; e o terceiro, “estou construindo uma catedral”. Orgulhosa, Iphigenia determinava ser este último o protótipo do timesman.