A Dinamarca, reino onde o bardo inglês William Shakespeare fez nascer o atormentado príncipe Hamlet, sempre foi vista pelo resto do mundo como a fronteira onde se dividem, mas também se amalgamam, as gélidas civilizações nórdicas e as mais cálidas culturas européias. O romance Niels Lyhne, do dinamarquês Jens Peter Jacobsen (Cosac & Naify, 290 págs., R$ 35), no mínimo confirma esta imagem. Mas ele é mais, muito mais. Dele pode-se dizer, talvez, que é um épico sem alarido e sem multidões. Contando a trajetória de vida do personagem-título, Niels Lyhne revela com tintas delicadas mas intensas uma realidade que tenta simultaneamente se adequar a um mundo em acelerada mutação, o do final do século XIX. O provinciano Niels corre atrás de uma vida que não sabe como reter para si. Voa atrás de algo que não se concretiza jamais, porque nada mais é que um sonho sem contornos palpáveis. Quer ser poeta, mas não escreve – está com muita pressa de viver para deter-se na realidade da pena sobre o papel. Quer amar, mas não consegue fixar o coração em uma única musa. Suas amadas morrem, se vão, desaparecem sem deixar outro rastro que a frustração morna.

As mulheres do mundo de Jacobsen querem ser livres, amar intensamente, escapar da ignorante submissão tradicional, mas nas paisagens geladas não conseguem identificar a trilha para a liberdade. Os homens anseiam pelo rastro deixado pelos últimos poetas românticos. Das regiões mais amenas do continente, o autor invoca as grandes paixões vividas, ou nem tanto, pelos seus personagens, seres desesperados por sentir o impacto das infinitas emoções.