22/08/2001 - 10:00
Personagem típica da globalização capitalista e maior executiva do setor de telecomunicações no Brasil, a mexicana Purificación Carpinteyro Calderón tem um estilo metódico, às vezes duro. Mas não perde os cuidados com a aparência hollywoodiana, mesmo quando afirma não temer a possibilidade de a esquerda chegar ao Palácio do Planalto no próximo ano, 2002. “Não estamos preocupados com as tendências ideológicas do governo, desde que sejam respeitados os termos dos contratos de concessão”, diz a poderosa vice-presidente de Serviços Locais e de Assuntos Externos da Embratel, que vai comandar a aplicação de recursos na telefonia local. Segundo ela, “qualquer governante brasileiro entende a necessidade de investimentos sérios e constantes no setor das telecomunicações”.
Purificación exerce uma função estratégica na companhia que tem 80% do mercado brasileiro de telefonia internacional e lidera o de transmissão de dados. Fechou o primeiro semestre com uma receita líquida de R$ 3,7 bilhões, dos quais R$ 894 milhões com a transmissão de dados, e um prejuízo líquido de R$ 73 milhões. A maior companhia de telecomunicações da América Latina prepara pesados investimentos nos próximos anos. Grande parte, exatamente US$ 400 milhões, será gerenciada por Purificación, uma mulher discreta que não revela a idade nem o estado civil.
A executiva que levou novos ares ao ambiente sizudo herdado do passado estatal já se prepara para a batalha da exploração do mercado de telefonia local. Os recursos previstos são só para a primeira fase dessa meta, quando a companhia pretende entrar no mercado doméstico de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife e Salvador, explorando, em uma primeira fase, o setor de atendimento a empresas.
A Embratel, que opera em DDI e DDD, vai poder prestar serviços locais a partir de janeiro de 2002. “A Anatel ainda vai divulgar as regras para que as empresas se preparem para o competitivo ano de 2002”, diz a executiva. Aquelas que conseguiram antecipar suas metas de universalização até o fim de setembro deste ano terão licença para competir em outros mercados.
Para Purificación, os resultados do setor demonstram que a privatização deu certo. “Num passado ainda recente discutia-se o acesso ao telefone e seu preço, enquanto agora se discute a qualidade do serviço, que pode melhorar com a competição”, diz. O desafio da Embratel é entrar nas áreas da Telemar, Telefonica, Brasil Telecom e CRT, do Sul, na telefonia local. Seus planos são ambiciosos. Ela defende o estudo de uma forma legal de os assinantes mudarem de prestadora sem alteração do número do telefone. “Quero eficiência e competição.”
A mexicana que vai comandar a nova batalha integrou a equipe da MCIWorld, que fez a avaliação da Embratel, em 1998, para a atual controladora. Após se formar em direito pela Universidade Livre do México e fazer mestrado em Harvard, ela participou da renegociação da dívida do setor privado de seu país com bancos internacionais no governo de Ernesto Zedillo. É especialista em telecomunicações e em negociações empresariais. De 1989 a 1995, no Investment Bankers, do México, foi responsável pelas aquisições de empresas no Exterior. Seu sonho é transformar a Embratel em uma das principais empresas de telecomunicações do planeta. “Na realidade, não é um sonho, mas um projeto”, diz, sem modéstia.