13/02/2015 - 16:30
Em suas primeiras manifestações públicas, o novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, já disse a que veio. Irá atacar o problema mais urgente da empresa, que é a publicação de um balanço com aval de uma auditoria de ponta, e também aperfeiçoará os mecanismos de governança da estatal. Para isso, a experiência que traz do Banco do Brasil, onde foram implantados vários comitês gerenciais, em que as decisões são colegiadas, será de grande valia – na Petrobras, além do mecanismo de contratação que dispensava licitações, que vem desde os anos 90, diretores tinham autonomia para assinar aditivos bilionários. Com Bendine e seu fiel escudeiro, o financista Ivan Monteiro, que também vem do Banco do Brasil, não mais.
Outro sinal importante, também pró-mercado, foi a declaração de que a Petrobras estudará abrir o capital de algumas de suas subsidiárias. Um exemplo concreto é o da BR Distribuidora. A sinalização de Bendine não é uma promessa ao vento. Sua gestão no BB foi marcada por operações semelhantes na área de cartões de crédito, com a Cielo (uma parceria com o Bradesco), e de seguros e previdência, com a BB Seguridade – neste caso, o maior IPO já realizado no País, de uma empresa que continua a se valorizar depois da abertura de capital.
Bendine, portanto, tem tudo para agradar ao mercado financeiro, ainda que a desconfiança possa perdurar por mais alguns meses. Dito isso, a nova gestão da companhia não será voltada, apenas, para satisfazer os investidores. Como empresa pública, a Petrobras sempre teve, tem e continuará a ter um papel estratégico na vida econômica do País. Isso significa que, a despeito da Operação Lava Jato, a política de valorização da indústria naval e de conteúdo nacional nas encomendas da estatal será mantida.
O caso mais urgente, sobre o qual Bendine estará debruçado, assim como Alexandre Abreu, seu sucessor no BB, será o da empresa Sete Brasil, criada pela Petrobras para organizar a cadeia produtiva do setor naval, construindo sondas de perfuração e plataformas de petróleo no Brasil. Caso a empresa entre em colapso, mais de 150 mil empregos estarão em risco. No Palácio do Planalto, sabe-se que a reversão da política de conteúdo nacional é um dos objetivos ideológicos velados da oposição e Bendine está na Petrobras para evitar que isso aconteça.
Caso o novo presidente da Petrobras fosse um nome ansiado pelo mercado, como o de Henrique Meirelles, o governo Dilma teria perdido completamente a ingerência sobre a estatal. Meirelles seria o “salvador da pátria” e até eventual candidato, em 2018. Bendine tem pretensões factíveis: publicar o balanço, melhorar a governança e travar a batalha da comunicação em defesa da política de conteúdo nacional, agindo em sintonia com o Palácio do Planalto.