31/01/2001 - 10:00
No filme Perfume de mulher, o ator Al Pacino interpreta um ex-combatente de guerra que perdeu a visão, mas recupera a vontade de viver depois de realizar seus mais pungentes desejos: enlaçar-se numa mulher exuberante, com quem dança tango, e pilotar uma Ferrari último tipo em altíssima velocidade. Embora sempre tivesse um assistente a tiracolo, o personagem de Al Pacino mostra que não há obstáculo intransponível para um deficiente visual. Ainda de forma tímida, um projeto genuinamente brasileiro começa a ser testado nas ruas de Belo Horizonte. É o DPS 2000, aparelho transmissor de sinais por ondas de rádio criado pelo vendedor mineiro aposentado Dálcio Pedro Simões. Com aparência e peso de um pager, a traquitana chama táxi ou ônibus para o ponto e emite um aviso sonoro quando o veículo estaciona. É uma alternativa para que os cegos possam usar o transporte público sem auxílio de um bom samaritano.
Para o professor de história Zilmar Dias Figueiredo, presidente da União Auxiliadora do Cego de Minas Gerais, a geringonça caiu do céu. “Pode não ser uma invenção tecnológica esplendorosa, mas para nós é um sonho que se tornou realidade”, explica. O aparelho começou a tomar forma há cinco anos, mas saiu do papel no ano passado. Para funcionar, um deles fica com o deficiente e o outro é instalado no ônibus ou no táxi. No teclado, em braile, o cego seleciona o meio de transporte e digita o número da linha ou o bairro do ônibus que quer. O aparelho envia um sinal para ser captado pelo receptor do veículo, que deve estar no máximo a 150 metros de distância. Quando ele se aproxima do ponto, o sistema emite um som para avisar o passageiro (se a linha escolhida é a de número três, o aparelho apitará três vezes seguidas).
Movida a bateria com duração de até seis horas, a geringonça tem memória para dez números e deve chegar ao mercado a partir de março por “menos de R$ 50”, segundo seu inventor, que planeja estender o serviço à frota de táxis da capital mineira. De oficial, já existe um projeto de lei para tornar obrigatória a instalação do receptor em todos os veículos de transporte coletivo de Minas Gerais. É ver para crer.