14/02/2001 - 10:00
De candidato favorito à presidência da Câmara, o deputado Inocêncio Oliveira (PFL-PE) chega à eleição nesta quarta-feira 14 praticamente sem chance de vitória. Foi atropelado pela estratégia suicida de Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) que, ao vetar Jader Barbalho para a presidência do Senado, acabou apadrinhando o acordo entre os tucanos e o PMDB. Em entrevista a ISTOÉ, Inocêncio anunciou que, se perder, abandona a vida pública. Sem esconder sua mágoa com o governo, confessou estar engolindo sapos no PFL e, surpreendentemente, relacionou entre seus atuais conselheiros João Amazonas, o velho comandante do Partido Comunista do Brasil.
ISTOÉ – O sr. tem mágoa do presidente Fernando Henrique?
Inocêncio de Oliveira – Não, mas continuo distante do presidente. O governo optou por apoiar o outro candidato de forma escancarada: o ministro Andrea Matarazzo é uma coisa impressionante, o ministro Dornelles é de estarrecer, o ministro Serra, o ministro Padilha.
ISTOÉ – O que eles fazem?
Inocêncio – O Matarazzo planta notas, diz que a minha campanha não tem jeito. O Dornelles usa o nome do presidente para pedir votos para o outro candidato. É uma forma encoberta de dizer que FHC está apoiando o outro candidato. Gostaria de dizer uma frase de ACM: o problema de Dornelles é psiquiátrico.
ISTOÉ – O sr. poderia explicar?
Inocêncio – A coisa é tão acintosa que não merece maiores comentários.
ISTOÉ – No Planalto, a avaliação é de que o sr. está atirando no alvo errado. Por que o sr. não critica o senador ACM, que foi quem criou o problema?
Inocêncio – Não é verdade. Sou crítico naquilo que o senador tem feito. Minha dificuldade na Câmara é que meu candidato no Senado é um veto. Mas tem uma diferença entre os dois. Do senador Antônio Carlos recebo apoio incondicional. Do outro lado, nada disso. Nem uma palavra. Também não estou cobrando.
ISTOÉ – Até o veto de ACM a Jader o sr. estava com a eleição quase ganha…
Inocêncio – Concordo plenamente. A vitória tem muitos generais, a derrota tem poucos, ou quase nenhum. Eu acredito na vitória. Dar ao partido do presidente a presidência da Câmara é instituir no Brasil o poder absoluto, que não serve nem à instituição nem à democracia e muito menos à sociedade.
ISTOÉ – O que o sr. acha da candidatura Jorge Bornhausen à presidência do Senado?
Inocêncio – Ele não será candidato. Já dei um freio de arrumação nisso. Seria fatal para o PFL. Acabaria com meu discurso na Câmara.
ISTOÉ – Quais os seus projetos em caso de derrota?
Inocêncio – Saio da liderança e vou encerrar a minha carreira política.
ISTOÉ – O sr. não vai se candidatar em 2002?
Inocêncio – Não.
ISTOÉ – E se ganhar?
Inocêncio – Aí posso repensar. Se perder não serei candidato a nada. Não preciso de pena, preciso de amigos.