14/02/2001 - 10:00
Alan Rodrigues |
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Acary afirma que alterações têm causa ignorada |
As especulações sobre a possibilidade de o gado brasileiro ter a doença da vaca louca geraram inquietação entre os consumidores. Na tentativa de tranquilizar os brasileiros, muita gente partiu para o contra-ataque, sustentando a posição de que, pelo menos desse mal, o País estaria livre. O argumento é o de que, por aqui, não existiriam animais infectados. “Não há chance de o nosso rebanho estar contaminado”, garante Pedro de Camargo Neto, presidente do Fundo de Desenvolvimento da Pecuária, de São Paulo. Na quarta-feira 7, foi a vez de o ministro José Serra ir a público para tentar dissipar temores. Ele assegurou não haver registros de vítimas humanas por aqui.
Mas ainda é cedo para chegar a conclusões tão categóricas. Nem mesmo a ciência conseguiu elucidar alguns mistérios a respeito da natureza do mal. Ele continua intrigando os pesquisadores. O que se sabe sobre sua origem é que a doença foi transmitida às vacas por meio de ração feita de partes de carneiros. Esses animais, por sua vez, estavam infectados por uma versão modificada de uma proteína chamada príon. Presente no corpo dos carneiros e nos seres humanos, por enquanto ela ainda não teve a sua função desvendada. Porém, quando está alterada – por motivos também não totalmente esclarecidos –, ela atinge o cérebro, causando degeneração das células locais. Nesse ataque, forma buracos no órgão parecidos com os de uma esponja. Por isso, a doença recebe o nome científico de encefalopatia espongiforme. O resultado é que as funções cerebrais são comprometidas. Entre outros problemas, o gado perde o equilíbrio e fica enfurecido. Os sintomas demoram cerca de um ano para aparecer. Depois das primeiras manifestações, no entanto, os animais morrem em pouco tempo.
Transmissão – O caminho pelo qual a doença chegou ao ser humano, entretanto, ainda gera dúvidas. Há quem suspeite que o mal não tenha sido transmitido por meio da ingestão de carne bovina contaminada pela proteína. A alegação é a de que, se isso fosse verdade, haveria muito mais gente doente, já que o consumo de carne no mundo é gigantesco. Mas a maioria dos especialistas acredita na passagem da vaca para o homem porque tem certeza de que o mal é transmissível. Uma das referências é o fato de que, na década de 50, foram registrados casos de aborígenes de uma região da África que contraíram a doença por meio de rituais canibais. Como a proteína modificada foi parar lá, contudo, ninguém sabe. Na década de 80, percebeu-se que o mal era transmitido entre espécies diferentes, como no caso da ração de carneiro para a vaca.
Alan Rodrigues |
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O neurologista Coimbra explica que a príon se acumula nas células e danifica o cérebro |
No homem, o mecanismo de ação da proteína transmitida pela vaca é idêntico ao dos animais. “Como o corpo não elimina essa substância estranha, ela se acumula nas células, principalmente nos locais com terminações nervosas, como os ossos, até atingir o cérebro e danificá-lo”, define Cícero Coimbra, neurologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A doença se manifesta através de distúrbios psiquiátricos em que predominam idéias delirantes, agitação e agressividade. Seu desenvolvimento é lento. É mais frequente em pessoas com idade em torno de 30 anos e o tempo de incubação pode variar entre 5 e 35 anos.