21/05/2008 - 10:00
Á primeira vista, o jogo parece uma versão online e mais “mulherzinha” do Tamagoshi, bichinho virtual que foi febre nos anos 90. A tarefa de quem se inscreve, gratuitamente, no site Miss Bimbo é cuidar de uma boneca virtual, alimentando-a, matando sua sede e garantindo que ela esteja sempre feliz. A escala de felicidade, porém, varia de acordo com sua popularidade, seu guarda-roupa e, claro, se ela está gorda ou magra. Boneca gorda é boneca triste. Por essas e outras, o desafio do game é fazer de sua Bimbo a mais famosa e sexy de todas. Como? Investindo em seu visual: roupas caras, maquiagem, pele bronzeada e até cirurgia plástica. Tudo isso requer dinheiro. Um dos caminhos para consegui-lo é arrumar um namorado rico, que banque seus caprichos. Nada que o nome do jogo não sugira: bimbo, em inglês, significa mulher bonita e burra – ou, ainda, mulher promíscua. Não é à toa que a popularidade do site entre os jovens tem preocupado pais de todo o mundo. Entre os mais de 560 mil inscritos há crianças com menos de dez anos. E muitos adolescentes, inclusive do Brasil.
Os pais devem mesmo ficar atentos, alertam os especialistas. Como ainda estão em processo de formação, as crianças não têm discernimento para separar o mundo real do virtual – e podem ser influenciadas pela mensagem de superficialidade que o jogo passa. Cabe aos pais perceber quando é preciso intervir. “Jogos como esse trazem idéias que vão contra os valores da família”, explica Leila Cury Tardivo, do Instituto de Psicologia da USP. Nem sempre é o caso, porém, de proibir o acesso. Ganham mais pontos os pais que souberem conversar sobre os temas em questão. “É como um menino que brinca de luta. Ele não sai batendo em todo mundo, porque aprende que é uma coisa lúdica”, relativiza a psicóloga. “Quando a menina é criada de maneira que sejam apresentados outros valores, o jogo vira só uma brincadeira, porque ela conhece outras opções. Vira só uma fantasia”, acrescenta Lulli Milman, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
A mãe de Samantha Dias Viana, 15 anos, não se importa que a estudante gaste pelo menos 15 minutos por dia cuidando de sua Bimbo. Isso porque a adolescente sabe bem o que quer da vida. “Ela é determinada. Está indo para a Alemanha num intercâmbio, quer estudar, ter o próprio dinheiro e não depender de ninguém”, diz a analista de sistemas Maria José Dias da Silva, 45 anos. A cearense separa mesmo as coisas: “Tudo depende do seu objetivo. Se você não quer usar roupa vulgar, não vai usar só para ser como a Bimbo. É uma diversão, algo que existe só na internet.” Colega de classe de Samantha, Carolina Parente Banhos, 15 anos, também entra no site pelo menos uma vez por dia. “Mas fico só cinco minutos, que é o tempo de dar comida e água e completar alguns passatempos que valem dinheiro”, pondera. Miss Bimbo é uma febre que se alastra entre garotas, assim como outros jogos virtuais que vêm e vão. O site não inventa um conceito de vida, apenas recria o universo fútil em versão online. Cabe a cada um, pais e filhos, ficar alerta para que a brincadeira se restrinja à tela do computador.
QUANTO CUSTA UMA BIMBO
Quando se inscreve no jogo, o usuário ganha 1.000 bimbo dollars, que deve utilizar para investir no visual da boneca, fazer compras no supermercado e alugar um apartamento. Para ganhar mais, é preciso trabalhar, completar alguns passatempos e vencer desafios contra outras Bimbos. O que dá mais dinheiro, porém, é o namorado rico. Também é possível comprar a moeda por telefone, mensagem de texto ou cartão de crédito (única opção disponível para brasileiros).