21/02/2001 - 10:00
Cercado de pompas, o porta-aviões São Paulo, vendido pela França à Marinha brasileira por US$ 12 milhões, chega ao Rio de Janeiro no sábado 17. Está feliz a Marinha e está feliz a diplomacia brasileira. A Marinha, por duas razões: o São Paulo representa um aumento da presença militar brasileira no Atlântico Sul e aponta para o final de uma limitação imposta por um ato arbitrário de 1965, quando o então presidente Castello Branco impediu a força naval de ter uma aviação embarcada própria. A diplomacia comemora porque a compra do porta-aviões é uma clara exibição do esforço brasileiro para se mostrar em condições de cumprir as funções exigidas pela ONU dos membros permanentes do Conselho de Segurança da entidade.
O São Paulo, que tem um comprimento equivalente a dois gramados do Maracanã, vai contar com 23 caças A-4 Skyhawk – negociados com o Kuait por US$ 70 milhões —, armados com bombas e mísseis de defesa aérea e com um esquadrão de helicópteros que poderá ser armado com mísseis ar-superfície ou com torpedos anti-submarinos. Uma comissão da Marinha ainda vai definir o sistema de armas do porta-aviões. Ele certamente contará com radares de direção de tiro e de busca. Será bem mais equipado do que o velho Minas Gerais, hoje na fase final de sua vida útil. Sua guarnição poderá chegar a 1.900 homens e a velocidade máxima do porta-aviões é de 60 quilômetros por hora. Trata-se de um navio bastante ágil para o seu porte.
Batizado de Foch (de Ferdinand Foch, herói militar francês), na França, o navio de guerra iniciou suas atividades em 1963. Participou de várias operações bélicas internacionais, inclusive das ações da coalizão anti-Saddam Hussein contra o Iraque em 1991. O interesse da França e do Brasil em ampliar a cooperação militar influiu no preço do São Paulo. Um porta-aviões novo semelhante pode custar US$ 500 milhões. A indústria militar da França, que tem participação na Embraer, está interessada em manter boas relações com o Brasil. O jato de caça francês Mirage 2000-5 é um dos concorrentes para a substituição dos jatos F-5 da Força Aérea Brasileira.
Problema de regulagem – Na Marinha, ninguém duvida de que a recepção ao novo porta-aviões será festiva e colocará um fim à polêmica gerada em abril do ano passado, quando o navio, ainda com o nome francês, deixou o porto do Rio de Janeiro rumo a Dacar, na África. Na ocasião, o porta-aviões deixou a cidade emitindo uma enorme cortina de fumaça negra que cobriu o céu da região central do Rio. A Secretaria Municipal do Meio Ambiente tomou conhecimento do fato e tentou emitir uma multa, mas o navio já havia deixado o porto e não pôde ser autuado. Houve um desconforto entre diplomatas franceses e brasileiros, mas logo os vendedores do porta-aviões esclareceram que a fumaça fora provocada por problemas de regulagem nas caldeiras.
Segundo o almirante Armando Vidigal, estrategista da Marinha, o São Paulo eleva a capacidade de o País exercer sua soberania no mar. Agora, a Marinha brasileira pode voltar a embalar um velho e adiado sonho: a construção de um submarino com propulsão nuclear.