Há tempos, o roqueiro argentino Fito Paez namora o mercado brasileiro. Não só ele. Outros compatriotas, como o também roqueiro Charly García e bandas da linha de Los Pericos, tentam porque tentam emplacar no Brasil e não conseguem. O mesmo não se pode dizer dos artistas nativos. Em mão de via única, gente como Gal Costa ou Os Paralamas do Sucesso vendem bastante discos na Argentina e frequentemente excursionam pelo país, apresentando-se em locais lotados. No tour de force dos portenhos, Fito Paez é o que mais tem se aproximado de seu intento, embora esteja a léguas da completa sedução da brasileirada. Talvez agora ele diminua a distância ao lançar seu 11º álbum Rey sol, título um pouco megalomaníaco mas em sintonia com o status adquirido em sua terra natal. Produzido por Phil Ramone, que já assinou trabalhos para George Michael, Billy Joel e outras estrelas internacionais, Rey sol demonstra a determinação de Paez em também se aproximar do pop-rock feito no resto do mundo. Tanto que, no final de 2000, o argentino foi brindado com dois Grammy latinos nas categorias melhor intérprete e melhor música de rock.

Autor de todas as canções do disco, Paez se cercou de ótimos músicos, introduziu guitarras musculosas, cordas, teclados, mas não desprezou o lado acústico, misturando-o muito bem a rocks vigorosos como Vale e El diablo de tu corazon. O cantor e compositor, que completará 38 anos em 13 de março, também despertou seu lado heavy em Acerca del niño proletario e, interessado no bom pop, privilegiou o balanço acelerado do gênero em Lleva, amenizando-o na balada Dale loca. Fito Paez faz parte daquela geração roqueira que ainda tem o que falar. Suas letras são imensas. Sem perder tempo com bobagens, ironiza a família argentina, recorda a Buenos Aires dos velhos tempos e explora a face brutal da existência. Está na hora de os brasileiros levarem a sério pelo menos o Mercosul musical.