30/05/2007 - 10:00
EXPLOSÃO White center, de Rothko, valia US$ 8,5 mil em 1960. Foi vendido agora por US$ 72,8 milhões
Sempre que se anunciava uma grande venda em leilões internacionais de arte, o resultado era o mesmo: lá se ia mais um Picasso ou Van Gogh ou Renoir. Agora, ao divulgar os resultados de suas transações milionárias, famosas casas de leilões como a Christie’s e a Sotheby’s vêem-se obrigadas a falar de artistas dos quais até então pouco se comentava – Jackson Pollock, Mark Rothko, Jasper Johns e Willem de Kooning. O primeiro desses pintores, por exemplo, é o autor da pintura Nº 5 (1948), um emaranhado de jatos de tinta sobre a tela (a técnica ficou conhecida como dripping) e que hoje detém o título de obra mais cara do mundo. Foi arrematada por US$ 140 milhões. A massa empastada de vermelho chamada False start (1959), de Jasper Johns, alcançou US$ 80 milhões numa venda privada. Na semana passada, a Sotheby’s comemorou outra transação que muda a preferência dos colecionadores de arte: White center-yellow, pink and lavender on rose (1950), de Mark Rothko, composição formada por três faixas de cor, bateu na cifra de US$ 72,8 milhões – quase o dobro do esperado. O que essas obras têm em comum? São assinadas por pintores americanos ou naturalizados e pertencem a um gênero para o qual muita gente ainda torce o nariz: o abstracionismo.
A tela White center pertencia à coleção do milionário David Rockefeller e foi comprada em 1960 por US$ 8,5 mil. Na disputa final, cinco compradores deram seus lances e tudo o que se sabe do vencedor é que ele usa barba e não é alto. O mistério é total, mas o restrito mercado de arte ainda não desistiu de saber que tipo de colecionador é esse que deixou de lado a preferência pelo impressionismo e pelo cubismo e resolveu apostar pesadas fichas no expressionismo abstrato americano.
A performance desses artistas começou a melhorar há quatro anos com a especulação em torno do trabalho de Rothko, cuja valorização tem sido assustadora: US$ 16 milhões para a tela Nº9 em 2003, US$ 17 milhões para a tela Nº 6 em 2004, US$ 22 milhões para a tela Hommage to Matisse em 2005 e, agora, US$ 72,8 milhões para White center. O pouco que se sabe sobre a estratégia de valorização do expressionismo abstrato é que a pessoa que vendeu pelo menos três dessas telas (Nº 5, de Pollock, False start, de Johns, e Police Gazette, de De Kooning) foi o empresário David Geffen, ex-sócio de Steven Spielberg. E quem as comprou foram altos executivos do setor financeiro.