26/12/2014 - 19:00
O ebola já havia assustado o mundo antes. Mas nunca como em 2014. Um dos vírus mais letais conhecidos, ele matou mais de sete mil pessoas ao longo deste ano, infeccionou mais de 19 mil e, pela primeira vez, extrapolou as fronteiras da África. Houve quatro casos nos EUA, com uma morte, e um na Espanha. No Brasil, uma suspeita foi registrada em outubro. Souleymane Bah, 47 anos, vindo da Guiné, passou cinco dias hospitalizado no Instituto Evandro Chagas, no Rio de Janeiro, até ser liberado.
CAOS
Em Serra Leoa, na África, médicos preparam corpos
de vítimas para serem enterrados
No início de agosto, a situação havia atingido um nível tamanho de gravidade que a Organização Mundial da Saúde declarou a proliferação do vírus uma emergência de saúde internacional. A entidade havia dado essa classificação apenas à pandemia de gripe provocada pelo H1N1, em 2009, e, em maio deste ano, à ameaça da volta da poliomielite a nações onde a doença está erradicada.
Os países mais atingidos foram Serra Leoa, Libéria e Guiné. Lá, o cenário causado pelo avanço do ebola foi de caos. Logo nas primeiras semanas ficou claro que nenhuma dessas nações tinha condições apropriadas para deter o vírus. Os hospitais superlotaram e os centros de quarentena montados para isolar os doentes mostraram-se frágeis. Infectados conseguiram sair dos locais e ir para as ruas. Em Monróvia, capital da Libéria, um rapaz contaminado foi ameaçado pelos moradores quando circulava pelas ruas. Foi resgatado e enviado novamente ao isolamento.
Além da indisfarçável falta de estrutura – incluem-se aqui remédios insuficientes e deficiência de pessoal minimamente treinado para atender os doentes –, contaram para a proliferação assustadora do ebola aspectos culturais fortemente enraizados no continente africano. Até hoje, em muitos rituais de velório, há lavagem do cadáver à mão, sem qualquer proteção, e muitas famílias escondem parentes infectados dentro de casa.
Somente em dezembro a epidemia deu sinais de arrefecimento. Mas a violência com a qual o vírus se disseminou obrigou Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, a fazer um aviso e um apelo: “Devemos aprender as lições do ebola desenvolvendo melhores sistemas de alerta e de resposta rápida. Os países precisam se preparar para a próxima epidemia, que certamente ocorrerá”.
Foto: Sylvain Cherkaoui/Cosmos Photo/Glow Images