26/12/2014 - 19:00
Dentro e fora de campo, extraordinária. Para a Seleção Brasileira, bisonha. Não é exagero dizer que a Copa do Mundo de 2014 foi, sob diversos aspectos, a melhor da história. Também não é incorreto afirmar que o time nacional conheceu, em seu próprio território, o maior vexame de todos os tempos. O Mundial surpreendeu pelo que não se esperava dele – organização quase impecável, estádios lotados, torcedores festejando nas ruas com segurança, transporte público eficiente – e decepcionou no ponto mais sensível para os brasileiros: a performance da sua seleção. A bordoada de 7 a 1 para a Alemanha, em plena semifinal e em pleno Mineirão, não só enterrou a segunda chance de conquistar o título em casa (o Brasil havia fracassado em 1950, na derrota para o Uruguai no Maracanã) como escancarou, da forma mais cruel possível as mazelas que há anos corroem o futebol do País. Foi, em suma, uma Copa inesquecível – para o bem e para no mal.
O curioso é que, antes de a bola rolar, havia enorme desconfiança quanto à capacidade brasileira de organizar um evento desse porte. Esperava-se um caos completo. Nas redes sociais, o bordão “Imagina na Copa” se tornou uma advertência contra o futuro sombrio que estava por vir.
DECEPÇÃO
O lateral Marcelo lamenta um dos gols da Alemanha na
goleada por 7 a 1: a maior derrota da Seleção Brasileira em 100 anos
Atletas, jogadores e torcedores estrangeiros desembarcaram no País com a expectativa de encontrar o próprio inferno. Depararam-se com algo muito diferente. “Foi a maior Copa que vi e provavelmente jamais haverá outra igual a essa”, disse o alemão Jürgen Klinsmann, técnico da seleção americana e que tem nos ombros o peso de três Copas disputadas como jogador. “O País do futebol merecia um Mundial deste nível”, afirmou o italiano Fabio Cannavaro, capitão da seleção italiana campeã do mundo em 2006. “Se os jogadores deram espetáculo dentro de campo, a torcida fez o mesmo nas ruas e nos estádios.” Cannavaro lembrou dos hinos cantados a capela por multidões, principalmente pelos torcedores sul-americanos. Jamais o mundo do esporte – nem em Olimpíadas – viu coisa parecida. Um dado para ser lembrado: 700 mil estrangeiros de 203 nacionalidades entram no Brasil por terra, mar ou ar, número 40% acima da previsão oficial.
O time comandado pela dupla Luiz Felipe Scolari e Carlos Alberto Parreira não fez jus à festa. Foi, de longe, o maior fiasco nos 100 anos da seleção e talvez a maior derrota de um país, em qualquer esporte. A Alemanha humilhou a equipe mais vitoriosa (a única pentacampeã) da história do futebol e a que, de longe, produziu a maior quantidade de craques. À exceção de Neymar – que abandonou a Copa depois de receber uma joelhada criminosa do colombiano Zuñiga, nas quartas-de-final –, todos fraquejaram. O capitão Thiago Silva desabou emocionalmente nas oitavas-de-final, contra o Chile. Entre lágrimas, recusou-se a fazer a sua cobrança na decisão por pênaltis. No jogo contra a Alemanha, o zagueiro David Luiz falhou em pelo menos três gols do adversário. Durante toda a Copa, Fred foi um poste. Oscar, uma decepção. Daniel Alves, uma nulidade. Pior: Felipão revelou-se incapaz de interromper o blitzkrieg alemão, e a mesma paralisia ficaria evidente na decisão do terceiro lugar, quando o Brasil perdeu por 3 a 0 para o Holanda. Dado constrangedor: a Seleção Brasileira sofreu 14 gols, recorde negativo, e foi a mais vazada do torneio.
TROFÉU
Jogadores da Alemanha comemoram o título mundial depois da vitória
por 1 a 0 contra a Argentina: os alemães foram os maiores
responsáveis pelo recorde de gols
Diversos indicadores comprovam as virtudes da Copa no Brasil. Segundo dados da Fifa, 3,6 bilhões de pessoas viram os jogos pela TV, ou 12,5% mais do que na África do Sul. Nas arenas, a média de público chegou a 53 mil pessoas, a segunda maior da história, atrás apenas do Mundial dos Estados Unidos (que tinha estádios maiores). Dentro de campo, craques como o alemão Toni Kroos, que comandou a seleção campeã, o argentino Messi e o holandês Robben protagonizaram grandes espetáculos, até mesmo para quem não é aficionado por futebol. Eles e outros talentos fizeram 171 gols no Mundial do Brasil, igualando o torneio da França, em 1998, que detinha a melhor marca. Para além do fiasco brasileiro, a Copa do Mundo foi mesmo soberba.
Fotos: João Castellano/Agência Istoé; AFP PHOTO/POOL/FABRIZIO BENSCH; André Mourão/Agência O Dia; Frederic Jean, AP Photo/Leo Correa; GABRIEL BOUYS