30/05/2007 - 10:00
Um estudo divulgado na semana passada pela revista americana New England Journal of Medicine colocou o remédio Avandia (maleato de rosiglitazona) sob suspeita de aumentar em 43% o risco de seus usuários terem um ataque cardíaco e em 64% o de morrerem de problemas cardiovasculares. A pesquisa, liderada pelo cardiologista Steven Nissen, da Cleveland Clinic, nos Estados Unidos, reavaliou dados de 28 mil pacientes tirados de 42 estudos já concluídos.
Alvo de questionamentos, o trabalho de Nissen gerou grande rebuliço, mas não foi suficiente para suspender a venda do remédio no mundo. A principal crítica ao estudo é ao método aplicado. Em nota oficial, a GlaxoSmithKline (GSK), fabricante da droga, advertiu que “as conclusões tiradas foram baseadas em evidências incompletas e numa metodologia que o próprio autor admite ter limitações significativas”.
O debate sobre o estudo é intenso e motivou uma atitude pouco usual de outra revista renomada, a inglesa The Lancet. Em editorial, os cientistas da Lancet criticaram a divulgação dos resultados antes de uma abordagem mais profunda, causando pânico desnecessário.
Não se deve interromper subitamente o uso do Avandia sem orientação médica. Isso prejudica o controle das taxas de açúcar no sangue
Entre as agências reguladoras, a postura é de cautela. Nos Estados Unidos, a agência FDA decidiu convocar um painel de especialistas para reavaliar os dados. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária informou que irá analisar a pesquisa antes de tomar qualquer iniciativa.
Mas o que devem fazer os usuários do Avandia até que se chegue a uma conclusão? O endocrinologista Simão Lottenberg, professor da Faculdade de Medicina da USP, aconselhou os seus clientes a esperar mais alguns dias antes de interromper o uso da medicação. “Vou aguardar o posicionamento de outros cientistas. Se as informações forem confirmadas, substituirei o medicamento”, afirma. Para o especialista Antônio Roberto Chacra, da Universidade Federal de São Paulo, há necessidade de novas pesquisas para investigar a descoberta. “Pacientes que já tiveram infarto e usam a droga devem marcar consulta para avaliar os prós e os contras com seus médicos”, orienta.