14/03/2001 - 10:00
AP |
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De la Rúa (à esq.) cumprimenta o novo ministro da Economia, López Murphy, visto como ultraliberal |
Acalmar gregos e troianos. Parece ser essa a missão do novo ministro argentino da Economia, Ricardo López Murphy, que deve anunciar nos próximos dias um conjunto de medidas para tentar, a um só tempo, reduzir o déficit público e reativar a economia, em recessão há quase três anos. O objetivo será recuperar a confiança dos investidores internacionais, abalada justamente porque o antecessor de Murphy, José Luís Machinea, falhou nas duas tarefas. Também tentará levantar a popularidade do presidente Eduardo de la Rúa e garantir o apoio do Congresso. Especula-se que a receita de Murphy deverá incluir corte de gastos, especialmente das províncias, e menos impostos para a população. De qualquer forma, deverá ser uma saída à moda Argentina pós-Menem, ou seja, seguindo a cartilha neoliberal que o país encampou há mais de uma década.
Acertar a dose do remédio e viabilizar o apoio político para convencer o paciente a aceitá-la não será nada fácil, dizem os especialistas. “A opinião pública já está decepcionada com De la Rúa. O índice de aprovação ao governo, que era de 70% há um ano, caiu para 30%”, disse o analista político argentino Ricardo Rouvier a ISTOÉ. Complica ainda mais a situação, diz ele, a proximidade das eleições, marcadas para outubro, quando o Senado e também parte da Câmara serão renovados. A disposição dos partidos da base governista para tomar medidas impopulares, portanto, não é das maiores.
Já López Murphy parece disposto a mexer nesse vespeiro. Como lembra a economista e consultora Eliana Cardoso, que o conheceu em Washington, onde reside, o economista argentino parece não ter medo de cara feia. “Uma das propostas dele, antes de ir para o governo, era cortar os salários. Mas, no curto prazo, terá de renegociar os acordos firmados com o FMI, garantir que as províncias cumprirão a promessa de congelar as despesas e convencer o Congresso a aprovar a reforma da Previdência”, diz a economista brasileira, que já trabalhou no FMI, no Banco Mundial e na equipe do ministro Pedro Malan. Nenhuma das tarefas, entretanto, fará a economia voltar a crescer, diz ela. “E, sem a recuperação da economia, é difícil imaginar que a dívida argentina seja sustentável.”
Como já é consenso entre os economistas, o ministro recém-empossado terá pouca margem de manobra, assim como Machinea. Parece pouco provável, por exemplo, que haja uma mudança no principal pilar de sustentação da política econômica argentina desde o início da década de 90: o sistema de conversibilidade do peso em dólar na base de um por um.