Alcir N. da Silva
Mama Gena e Bruce: aulas para as mulheres gozarem três horas seguidas

Uma das lições de casa obrigatórias para as alunas da escola Deusas do Sexo é fazer uma escultura de suas próprias vaginas. O mais realisticamente possível. Poucas, é claro, levam jeito para a coisa, mas todas, sem exceção, põem as mãos na massa. Afinal, ao que se sabe nem mesmo o gênio Michelangelo Buonarroti (1475-1564) foi capaz de espelhar em detalhes a anatomia de uma genitália feminina. Reproduções de falos existem aos magotes – Michelangelo mesmo contribuiu com farto acervo. Mas dificilmente se vê a contraparte feminina. “As mulheres são criadas para ter vergonha de suas virilhas. Aprendem desde pequenas a dar nomes como pipi, borboleta, lá em baixo, e nunca chamar o órgão sexual com seu nome próprio. Aqui na Mama Gena’s School of Womanly Arts nós procuramos ensinar a mulher a sentir orgulho de si e aprender a usar todo o poder que emana de sua vagina.” Quem diz isso é a própria Mama Gena, espécie de madre superiora deste templo do feminismo, que enverga como hábito um pijama de seda cor-de-rosa acompanhado de um leque de plumas na base do ton-sur-ton. Aos 47 anos, Gena não tem nada de matrona – como o nome poderia sugerir – e parece ser uma demonstração viva dos poderes terapêuticos da escultura, correta denominação e tomada de consciência vaginal. Sua instituição de ensino já graduou mais de um milhar de damas – e alguns cavalheiros – e é uma das pontas-de-lança de um movimento que ganha cada vez mais o, digamos, coração das americanas: as Deusas do Sexo. E o prêmio de formatura é a promessa da possibilidade de orgasmos de três horas. Ou mais…

As classes de Mama Gena estão cheias. São nove semanas, com aulas de três horas cada, a US$ 500 o pacote. E nestas nove semanas de amor a meta é ambiciosa: “Procuramos forçar a mulher, mesmo contra sua vontade, a se transformar numa deusa”, diz Regena Thomashauer – a Mama, que junto com o marido Bruce fundou a instituição Relationship Technologies em 1993. Os dois fazem parte de um enorme grupo de ex-alunos da More University, uma universidade experimental californiana que desde os anos 70 formou um batalhão de sexólogos versados nas artes do relacionamento humano. Esta escola foi criada por Vic Baranco, um pesquisador da sensualidade que teria dado os primeiros passos em técnicas que nos anos seguintes seriam chamadas de Extended Massive Orgasm (EMO), algo como Orgasmo Massivo Prolongado, o popular “orgasmo de três horas”.

AG. Keystone
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Mas o orgasmo, segundo Mama Gena, não é, como se poderia imaginar, o clímax do curso das deusas. Ele seria apenas parte de um processo de auto-conhecimento que visa alterar fundamentalmente o modo como a mulher se re laciona com o mundo. “As mulheres sempre estão interessadas em melhorar suas performances, seja na cama, seja no escritório”, garante a mestra. A teoria é que, se a mulher estiver de bem com a vida, consciente de seus poderes, ela entrará numa espiral de sucesso que envolverá todos os aspectos de sua existência. Para que isso aconteça a pessoa terá de se conscientizar de seu poder interno e se comunicar melhor com o mundo que a cerca. Ou, nas palavras de Gena, “a mulher deve ter noção dos poderes que emanam de sua vagina e exigir ser tratada como uma deusa”. Resumindo: uma auto-ajuda com base na sexologia.