Em seu primeiro longa-metragem, o inglês Stephen Daldry conseguiu o feito de concorrer ao Oscar de melhor diretor. Sua carreira não só ganha impulso como faz justiça a um belo filme. Billy Elliot (Billy Elliot, Inglaterra, 2000), cartaz nacional na sexta-feira 16, conta a história de um garoto que, em vez de seguir a vontade do pai e pegar nas luvas de boxe – uma tradição entre os homens da família –, opta pelas sapatilhas, enfrentando o preconceito no mundo rústico de uma comunidade de mineradores ingleses, nos anos 80. Daldry, porém, supera a tentação de fazer um melodrama apenas sobre os dilemas sexuais juvenis, assunto que aborda com sutileza. Acima de tudo, seu filme é uma declaração apaixonada à dança e à vitória do talento sobre a intolerância. Boa parte da empreitada bem- sucedida pode ser atribuída à escolha do adolescente Jamie Bell para o papel-título. Na infância, ele enfrentou situação semelhante à de seu personagem. Em vez do boxe, na escola era obrigado a jogar rugby, quando na verdade queria dançar. Talvez pela identificação com a arte, Bell dá enorme credibilidade ao esforço de Billy Elliot – que não demonstra nenhum trejeito efeminado – em se tornar bailarino.

Vivendo no meio de uma família com enormes problemas e purgando a perda recente da mãe, ele só consegue a plenitude da expressão de seus sentimentos conturbados dançando muito. Elliot também quer amenizar o clima opressivo da moralista vila de mineiros e se esquecer dos tapas do irmão mais velho. Apoiado por uma professora, o garoto canaliza suas angústias para uma arte que parece dominá-lo por completo. São comoventes os momentos nos quais seu pai Tony (Gary Lewis), homem rude e amargurado, ameaça compreender os desejos do filho. Stephen Daldry fez um filme vigoroso sem precisar, em nenhum momento, apelar para o dramalhão.