30/05/2007 - 10:00
Quando foi lançado na Europa, o Logan se transformou numa coqueluche. Um sedã, com espaço para cinco pessoas, surpreendeu pelo preço de 5 mil euros. Não por outro motivo, quando Carlos Goshn, presidente mundial da Renault, anunciou que o veículo seria produzido no Brasil, o mercado ficou em polvorosa. Afinal, nenhum carro feito aqui custa tão pouco. A ilusão não durou. Em sua apresentação como o novo presidente da Renault do Brasil, Jérôme Stoll foi categórico: "O Logan não será o carro mais barato do mercado." Por aqui, o modelo brigará com o Fiat Siena e terá preço fixado na casa dos R$ 30 mil. Isso equivale a 11,5 mil euros, mais que o dobro do valor cobrado pela Renault no Velho Continente. O que explica tanta diferença? Para as montadoras, a justificativa é a alta carga de impostos. Há, no entanto, cada vez mais analistas apontando em outra direção. No Brasil, a alíquota de importação, fixada em 35%, é uma das mais altas do mundo e oferece às montadoras uma proteção muito maior do que elas têm em seus próprios países. Resultado: há menos competição e a conta cai no bolso do consumidor.
Essa barreira protecionista foi atacada uma única vez na história do País. O então presidente Fernando Collor acusou a indústria de produzir "carroças" e reduziu a taxa de 70% para 35%. A indústria esperneou, mas ganhou eficiência. Agora, talvez seja a hora de um novo choque. E a principal razão é o preço dos carros. Um Fiat Uno sem opcionais custa US$ 12,4 mil, valor que daria para comprar um Toyota Yaris, nos EUA, onde a taxa de importação é de 6%. E em qualquer tentativa de acordo bilateral de que o Brasil participe, a taxa é questionada. Além disso, há um regime especial com o México e o Mercosul, que permite a entrada de veículos sem imposto. "Importar no Brasil é muito difícil", diz José Luiz Gandini, presidente da Abeiva, a associação dos importadores. "E um dos motivos é essa distorção provocada por duas taxas." Isso gera diferenças de preços em carros concorrentes. O Ford Fusion, produzido no México, chega ao Brasil por R$ 81 mil, enquanto o alemão Mercedez Classe C é vendido por R$ 142 mil. E esses carros, em seus países de origem, custam bem menos. "A comparação é injusta", diz o sócio da consultoria PricewaterCoopers, Marcelo Cioffe. "A indústria brasileira é taxada em média com 30% de impostos diretos. Nos EUA esse valor é de 6%
Manter a alíquota em 35% será impossível e a Anfavea, a associação das montadoras, sabe disso. Jackson Schneider, presidente da entidade, defende que a taxa caia de forma gradual. Para os importadores a cautela é desnecessária. "O País não precisa mais de medidas protecionistas, como no anos 90", diz Gandini. Apesar do descontentamento não há nada no horizonte que indique redução de imposto que favoreça a indústria automotiva. Pior para o consumidor.