14/03/2001 - 10:00
Liberdade, a imagem da mãe belíssima e a curiosidade por homens tomando banho nus são imagens da infância do escritor cubano Reinaldo Arenas, marcadas pelo contraste entre a pobreza de sua família e o esplendor da Cuba dos anos 40. Elas também são a tônica de Antes do anoitecer (Before night falls, Estados Unidos, 2000), cartaz nacional na sexta-feira 16, segundo filme do diretor americano Julian Schnabel. Arenas foi entusiasta de primeira hora da revolução cubana, que erradamente acreditou ser sexualmente libertária. Perseguido como homossexual, tornou-se maldito. Vivia sendo injustamente preso. Passou dois anos na famosa prisão de El Morro, contrabandeando suas obras para serem publicadas no exterior. Em 1980, durante o episódio de Mariel Harbor — no qual Fidel Castro permitiu a libertação e exílio de doentes mentais, homossexuais e criminosos —, Arenas fugiu para os Estados Unidos onde morreu de aids dez anos depois.
Para viver o autor, Schnabel apostou no carisma do espanhol Javier Bardem, 32 anos, veterano das fitas de Pedro Almodóvar e Bigas Luna. Bardem guarda certa semelhança com Arenas. Mas não é só pela coincidência que ele foi indicado ao Oscar de melhor ator. Javier Bardem está perfeito no papel do homossexual afogado pela moral vigente. No elenco, além de Andrea Di Stefano e Olivier Martinez como Lázaro Gómez Carilles – companheiro de Arenas até sua morte e consultor da produção –, identifica-se o diretor portenho-brasileiro Hector Babenco, interpretando um escritor, Sean Penn na pele de um camponês e um surpreendente Johnny Depp vivendo dois personagens fortes, o sádico tenente Victor e o travesti Bon Bon. Anticastrista ao extremo e inspirado nos textos caóticos de Arenas — a começar pelo autobiográfico Antes que anoiteça —, o filme de Schnabel deve muito à vibrante interpretação de Javier Bardem, sem a qual teria o efeito de um caleidoscópio.