Os economistas responsáveis pela política monetária brasileira vão gastar muito fosfato até a quarta-feira 21. Nesse dia terão de decidir o que fazer com uma variável fundamental da economia, a taxa básica de juros de curto prazo, hoje em 15,25% ao ano. Ela serve de referência para as taxas cobradas nos crediários, cartões de crédito e demais modalidades de financiamento. Quando sobe ou desce, as outras tendem a segui-la. Além disso, define quanto o governo gastará para financiar sua dívida interna e os empresários, para investir. Funciona ainda para atrair o capital estrangeiro e assim contribui para fechar as contas externas do País. Em última instância, dita o ritmo de crescimento da economia como um todo. Daí a importância da reunião do Conselho de Política Monetária, o Copom, na quarta. A data foi definida ainda no início do ano – não é, portanto, nada excepcional, muito menos de emergência. Fora do comum é o contexto: queda generalizada das Bolsas de Valores, possibilidade de recessão nas duas maiores economias do mundo, a americana e a japonesa, uma crescente desconfiança com relação ao futuro da economia argentina e alta expressiva do dólar em relação ao real. Diante desse cenário, a tarefa dos economistas do governo não será nada fácil: evitar que o nervosismo dos mercados, quase sempre exagerado, cause estragos na economia real.

Biô Barreira
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Nas últimas semanas, a expectativa dos investidores com relação aos juros e ao comportamento da economia mudou rapidamente. Isso contribuiu para algumas análises pessimistas de economistas ligados ao mercado financeiro internacional (leia texto à pág. 84). Até o final de fevereiro, a aposta mais frequente era que os juros continuassem caindo no Brasil. A queda forte das Bolsas e o agravamento da crise na Argentina mudaram o ânimo de analistas e operadores, que passaram a apostar principalmente na manutenção das taxas. O quadro mudou de figura quando, na semana passada, o dólar comercial ultrapassou a cotação de R$ 2,10 e o Banco Central precisou intervir para evitar que continuasse subindo, o que não fazia desde o início do ano passado. Para aplacar o apetite dos investidores, o BC vendeu dólares das suas reservas, mas a cotação voltou a subir em seguida e o câmbio continuou pressionado na sexta-feira. O BC justificou a medida afirmando que o mercado havia “descolado” dos fundamentos da economia e as cotações subiram por falta de vendedores. O lado bom é que o real fraco favorece as exportações.