21/03/2001 - 10:00
Ricardo Giraldez |
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Maria Alice falou com doentes, parentes e médicos |
Uma das situações mais angustiantes é ficar internado em uma Unidade de Terapia Intensiva. A UTI é o palco de uma batalha diária entre a vida e a morte. É lá que se encontra um dos mais altos índices de stress de um ambiente hospitalar. Esse vilão perturba o equilíbrio do organismo, deixando o corpo mais vulnerável ao ataque de infecções, entre outras consequências. Uma pesquisa feita pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), no entanto, pode ajudar a diminuir o sofrimento nessas unidades.
Trata-se da tese de mestrado da psicóloga Maria Alice Novaes, do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo. O trabalho, apresentado no final do ano passado, identificou as principais fontes de stress de uma UTI. A psicóloga usou como base de pesquisa a unidade do próprio Albert Einstein. Ela aplicou um questionário para investigar, entre outras coisas, o grau de dor e as dificuldades para dormir dos doentes. Na consulta, a especialista pediu aos entrevistados que apontassem as situações mais incômodas e dessem uma nota de 1 a 4. Foram entrevistados 50 pacientes conscientes internados e o mesmo número de familiares e representantes da equipe médica. No final, boa parte das escolhas foi consensual.
Os doentes se queixaram de continuar com dor mesmo depois de terem sido medicados. Outra reclamação foi a dificuldade para dormir por causa do barulho e também devido aos horários dos banhos. Geralmente, eles ocorrem de madrugada porque não há tempo de aplicá-los durante o dia. Os pacientes também disseram se sentir sem controle da situação e os familiares reclamaram dos poucos horários de visitas. Maria Alice acredita que, embora tenha se baseado em apenas um hospital, os resultados podem ser estendidos a outras UTIs, já que a rotina é a mesma em todas.
Com base nos achados da psicóloga, o hospital apresentou alternativas. No caso da dor, por exemplo, a equipe passou a perguntar com frequência ao doente, e não apenas em períodos regulares, se ele estava se sentindo bem. Assim, quando for necessário, o médico aumenta a dose do analgésico. “Qualquer alternativa é válida para ajudar na recuperação do paciente”, observa Elias Knobel, chefe do Centro de Terapia Intensiva da instituição.
A iniciativa de Maria Alice e as inovações do hospital reforçam a tendência de humanização das UTIs, movimento que incentiva mudanças no espaço físico ou na rotina dessas unidades, para que o doente se sinta um pouco melhor. “É preciso buscar soluções práticas para aliviar o sofrimento físico e emocional dos doentes”, defende Maria Alice.