21/03/2001 - 10:00
Dick Cheney, o vice-presidente dos Estados Unidos, é apontado por analistas políticos como a figura mais influente a ocupar o cargo em toda a história do país. Trata-se, é claro, de uma bobagem que revela o desconhecimento da história americana. Afinal, John Adams (1735-1826), o segundo presidente dos EUA, teve como vice ninguém menos que Thomas Jefferson (1743-1826), o homem que escreveu a Declaração de Independência. Jefferson, depois, seria eleito presidente em 1800. Cheney tem parcas chances de repetir esta proeza, considerando-se apenas o seu quadro clínico. Nos últimos 23 de seus 60 anos, ele sofreu nada menos do que quatro infartos e ganhou quatro pontes de safena. Em novembro último, em meio à guerra das recontagens de votos das eleições, ele foi internado no George Washington University Hospital para receber o implante de uma rede metálica tubular que deveria desobstruir uma artéria menor de seu coração. O procedimento não deu certo: houve novo estreitamento da artéria e, na semana retrasada, o paciente foi internado para repetir o tratamento. Esse vaivém nas salas de cirurgia provocou um calafrio na espinha dorsal da sociedade americana: se Cheney é de direito apenas o vice-presidente, ele é percebido como o presidente de fato do país. Ele está em todas: opera as manobras junto à espinhosa selva do Legislativo; mantém o secretariado na linha – quase nada é aprovado sem sua bênção; traça políticas no Pentágono – que ele conhece a fundo, já que foi secretário da Defesa do George Bush pai. E mais: faz dobradinhas com o secretário de Estado, Colin Powell, e com a assessora de Segurança Nacional, Condoleezza Rice, no traçado das políticas externa e interna do país. O vice-presidente apita em setores que vão da política ambiental à educação. Nada mal para um cardíaco. Mas muito preocupante para um país que depende dos sobressaltos das artérias inconfiáveis do coração de um glutão.
Sossegado – O presidente George W. Bush contribui para esta impressão. A começar pelos seus hábitos no trabalho. De segunda a sexta-feira, ele chega ao Salão Oval da Casa Branca às 7h15. Sai do posto pontualmente às 18 horas, sendo que faz paradas para almoço e exercícios que podem chegar a duas horas. Compare-se com outros presidentes: Richard Nixon muitas vezes dormia no sofá do Salão Oval; John Kennedy e Lyndon Johnson passaram noites e noites insones e Bill Clinton dificilmente saía de sua cadeira antes da meia-noite, indo em seguida usar o telefone em suas manobras políticas que varavam madrugadas. Bush faz mais o estilo de outro antecessor: Ronald Reagan, que muitas vezes dormia mesmo durante o expediente de trabalho.