21/03/2001 - 10:00
Em 2000, ano em que o Estatuto da Criança e do Adolescente completou dez anos, a ISTOÉ foi a revista de circulação nacional que mais publicou reportagens sobre o tema. É o que aponta a pesquisa realizada pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi) e pelo Instituto Ayrton Senna. Esta é a segunda vez que a revista fica em primeiro lugar no levantamento, que analisa 58 veículos de comunicação — 50 jornais e oito revistas. O diretor executivo da Andi, Geraldinho Vieira, explica: “A ISTOÉ faz denúncias, mas não deixa de mostrar iniciativas positivas.” Prova disso é a indicação de duas reportagens da revista para o Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo deste ano. A entrega está marcada para quarta-feira 21 e pode render o tricampeonato à ISTOÉ. São elas: “Retrato da Infância”, na categoria Revista, e “Ensino Reprovado”, no Destaque Educação em Mídia Impressa. “Notamos na ISTOÉ um compromisso editorial com o desenvolvimento humano do Brasil”, afirma Márcio Schiavo, coordenador do prêmio.
Também no ano 2000, a revista criou uma editoria de Educação, sob comando do jornalista Gilberto Nascimento. Esta é a terceira vez que ele é indicado ao prêmio. Na edição passada, de 1999, ganhou na categoria Revista. Agora, concorre com “Ensino Reprovado”, publicada em maio de 2000. A reportagem constata que garotos de 11 a 15 anos, estudantes aprovados por escolas públicas, não sabem ler nem escrever. O teste foi uma frase ditada que eles deveriam escrever. O resultado não poderia ser mais cruel: palavras ininteligíveis e constrangimento. Segundo Gilberto, “foi triste ver os meninos envergonhados, sem conseguir escrever nada”.
Carlos G. Vieira |
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Gilberto, indicado pela terceira vez, comprovou a deficiência da escola pública, com “Ensino Reprovado” |
“Retrato da Infância”, publicada em julho passado e assinada por Adriana Souza Silva, foi uma proposta de fazer algo diferente para comemorar o aniversário do Estatuto da Criança e do Adolescente. “Escolhemos garotos na faixa de dez anos, a mesma idade do estatuto, e pedimos a eles que fotografassem sua realidade”, conta Adriana. Terminada a apuração, uma das crianças pediu à repórter que ela não sumisse, como faziam outros jornalistas para quem já havia dado entrevista. O garoto de rua Paulo Henrique insistiu em que ela o visitasse no abrigo onde dormia, mantido pela ONG Casa Arte e Vida, no centro de São Paulo. Foi o suficiente para Adriana tornar-se voluntária na entidade, passando a frequentá-la semanalmente. A reportagem ajudou a mãe do menino a localizá-lo, levando-o para casa. A Andi registra que, em quatro anos, cresceu cinco vezes o número de matérias publicadas sobre o tema. Em 1998, primeiro ano do GP Ayrton Senna, o Instituto recebeu 600 inscrições. Nesta quarta edição, quase 4 mil reportagens concorreram ao prêmio. “As pessoas estão mais conscientes da realidade social e a imprensa acaba abrindo mais espaço”, explica Schiavo.