21/03/2001 - 10:00
Sílvia Alvarado, 37 anos, tem um emprego que muitos consideram o pior do mundo. Mas tem gente que morre de inveja e daria tudo para fazer o que a moça faz. Seu trabalho é passar o dia vendo novela. Ela é o olhar definitivo da equipe que seleciona os dramalhões, na maioria mexicanos, exibidos no SBT. As melosas e chorosas Luz Clarita, Esmeralda, A usurpadora, A mentira e Café com aroma de mulher só foram ao ar após a aprovação de Sílvia, de Clayton Sarzy e de Terezinha Giácomo, o time de assessores diretos de Silvio Santos.
A equatoriana Sílvia é noveleira de carteirinha. Até os 15 anos não perdia um dramalhão cucaracha sequer. O termo, aliás, não a agrada. “São tramas leves, inocentes, sem sexo. Por isso prefiro chamá-las de novelas rosas”, argumenta. Tal apego novelístico fez com que o pai, Xavier Alvarado, a convidasse para trabalhar na tevê da família, a Equavisa. Com apenas 22 anos assumiu o cargo de diretora de programação. Ela garante que a nomeação foi por competência e não por influência paterna. No entanto, pequenas divergências com os irmãos a fizeram deixar a emissora e buscar outros caminhos. Por sorte, Silvio Santos cruzou um deles. Ela conheceu o todo-poderoso do SBT na Napte, a maior feira de tevê do mundo, realizada em New Orleans, nos Estados Unidos. O chefão do SBT procurava alguém com conhecimento suficiente para escolher as novelas água-com-açúcar, repletas de lágrimas, galãs com quilos de pancake e finais felizes garantidos que iriam ao ar no canal do Homem do Baú. Trinta minutos de conversa foram suficientes para o empresário convencê-la a desistir de um curso de produção de tevê nos Estados Unidos e aceitar o emprego oferecido por ele. O argumento utilizado? Mais Silvio Santos impossível: “Você veio de um país pobre. Para fazer tevê nos Estados Unidos precisa-se de muita grana. O segredo é economizar. Eu sou o campeão de fazer tevê com pouco dinheiro”, gabou-se.
Há quatro anos no SBT, Sílvia perdeu a conta das novelas que viu. No momento, mais de 40 folhetins estão na sua sala à espera da apreciação da equipe. Ela vê qualidade nesses dramalhões. Mas respeita as opiniões dos críticos do gênero. “Cada um tem o seu gosto”, alega. A simpática equatoriana sabe exatamente os ingredientes que tornaram as novelas mexicanas sucesso no Brasil. Esmeralda, encerrada há duas semanas, manteve uma audiência média de 20 pontos. “Nós, latinos, gostamos de drama, paixão, sensualidade.” Quando chega em casa, Sílvia faz questão de se desligar dos dramalhões, novelas rosas ou qualquer coisa do tipo. “Eu assisto às novelas no trabalho. Em casa prefiro ver um filme ou então ler livros de auto-ajuda e revistas.” A exceção foi Laços de família. Sílvia não perdia um capítulo da novela da maior concorrente, a Globo. “A história era boa e o casting de artistas excelente. Sem contar os homens, lindíssimos”, diz a fã confessa dos globais Antônio Fagundes e Suzana Vieira. Que Silvio Santos não nos ouça.