A análise científi ca existe “para incluir certezas e excluir hipóteses”. Fez-se o contrário no Brasil com a exumação do ex-presidente João Goulart deposto pelo golpe militar de 1964. Jango morreu no exílio na Argentina em 1976 e em seu atestado de óbito consta a palavra “enfermedad” (doença, em castelhano). Ele era cardiopata, mas seu corpo não foi submetido à necropsia, abrindo a suspeita de envenenamento. Trinta e oito anos se passaram, e seu corpo foi agora exumado. Os peritos da Polícia Federal haviam avisado que o trabalho poderia ser em vão – e nisso agiram como verdadeiros cientistas. Na semana passada, concluídos os exames, declararam que não encontraram nada que sugira envenenamento, mas que tal hipótese não pode ser descartada – como um médico que diga ao paciente “você não está com o braço fraturado, mas talvez haja fratura”. Os peritos relativizaram a certeza do que viram e incluíram novamente a hipótese do que não viram. Aí abandonaram a ciência e produziram ideologia.