A reeleita presidente Dilma produziu mais uma genuína jabuticaba, aquela fruta silvestre que só dá no Brasil. Pelo inusitado, a nova trinca de ases da economia – à exceção do diligente presidente do BC, Alexandre Tombini, que segue à risca os ditames da chefe – tem a cara da oposição, plantada em pleno coração do governo que está por começar. O adversário de Dilma na campanha, Aécio Neves, chegou a comentar, em tom de ironia, que a escolha do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, confirmado na semana passada, equivaleu a colocar “um agente da CIA na KGB”. E o comentário procede. O indicado, que trabalhou informalmente na campanha presidencial do senador tucano, forma fileira ideológica (e tem absoluta sintonia de propostas) com Armínio Fraga, aquele cotado pelo PSDB para ocupar o posto caso o partido saísse vitorioso. Dilma criticava ferozmente Fraga e seu plano. Dizia que ele traria medidas impopulares como o aumento de juros e o corte no orçamento público. E agora foi à cata de alguém que deve gerir a economia pela mesma cartilha, perseguindo – acertadamente, registre-se – a responsabilidade fiscal e monetária, algo completamente esquecido nas práticas populistas do primeiro mandato da petista. Como a situação se agravou perigosamente e o ambiente não está para brincadeira, a presidente se viu premida a adotar o que antes renegava. A aliança que lhe dá sustentação reage, é claro, contra algo que segue completamente fora do seu figurino de farra orçamentária. Chegou a ensaiar uma espécie de protesto, com ativistas e intelectuais da cúpula reclamando pela “regressão da agenda vitoriosa nas urnas”. Mas resolveu baixar o facho e aceitar o inevitável. As ilusões e falsas promessas veiculadas por Dilma durante a campanha foram para as calendas. Na prática, fica agora evidente, nada do que ela pregou era verdade, ou dito à vera. Nem as contas em ordem, muito menos a lorota de que não iria promover apertos. Ao contrário, ela já admitiu e concedeu aumento de juros, de tarifas e corte de investimentos. Isso é ou não é o mais puro e cristalino estelionato eleitoral? A governante Dilma demonstra agora o que queria dizer quando falou que “em campanha se faz o diabo para vencer”. E inclua-se nesse vale-tudo, por dedução óbvia a partir de seus últimos movimentos, mentir sobre atos e escamotear fatos. O Brasil como um todo embarca nas experiências do novo laboratório inapelavelmente e parte dele – que votou na presidente – o faz certamente se sentindo enganado pelo conto da jabuticaba.