28/03/2001 - 10:00
No próximo dia 28, o presidente da Petrobras, Henri Philippe Reichstul, estaria em Londres para receber da Câmara de Comércio Brasil-Reino Unido o título de Personalidade do Ano. Por conta da tragédia da plataforma P-36, que naufagrou na terça-feira 20, Reichstul será representado pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan. O título se encaixaria como uma luva no modelo de gestão empresarial que Reichstul imprime há dois anos à estatal. Escolhido a dedo para ser o homem dos tucanos para tocar a transição do monopólio estatal para a modernidade, Reichstul lidera uma faxina no edifício-sede da empresa, no centro do Rio. Com seu estilo de homem de negócios contemporâneo, o ex-banqueiro Reichstul lembra pouco ou quase nada seus antecessores, como o engenheiro Joel Mendes Rennó, ligado à área de produção. Ao comemorar neste mês dois anos à frente da Petrobras, Reichstul poderia se vangloriar do lucro próximo de R$ 10 bilhões em 2000, não fosse a sequência de acidentes graves envolvendo também refinarias.
Alan Rodrigues |
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Rennó: ex-presidente é investigado |
Reichstul precisará de muitas vitórias profissionais para apagar de seu currículo os últimos desastres da empresa. Em dois anos vazaram da Petrobras cinco milhões de litros de óleo e 18 pessoas morreram em 95 acidentes. A maior e mais recente das tragédias levou o ânimo de Reichstul para baixo: “Estou frustradíssimo e de luto”, disse, na terça-feira 20, quando afundou em alto-mar a P-36, maior plataforma do mundo, cinco dias depois de ter sido danificada por uma explosão. No que parece uma ironia, a perda da P-36 e os demais acidentes ocorreram numa gestão marcada pela transparência. Ao contrário da administração anterior, de Rennó, livre de tragédias, mas marcada por uma avalanche de denúncias de irregularidades.
Denúncias – Passado e presente se misturam nas tragédias da estatal. O Ministério Público Federal no Rio começou a montar uma equipe de procuradores para apurar as denúncias mais relevantes, de um total de 80, que investiga contra a Petrobras. Por determinação do procurador-chefe, Flávio Paixão, serão escolhidos cinco procuradores para unificar a investigação de cerca de 20 acusações. As denúncias vão desde possíveis fraudes nas licitações de plataformas até graves acidentes, como o da P-36.