Um consenso e uma paranoia envolvem, neste momento, o personagem-chave para o sucesso ou não do segundo governo da presidente Dilma Rousseff. Anunciado na quinta-feira 27 como novo ministro da Fazenda, o economista Joaquim Levy tem a missão considerada unânime de ajustar as contas públicas. Na largada, Levy conseguiu, por seu histórico profissional no serviço público e no setor privado, uma proeza que nenhum de seus antecessores alcançou. Para lembrar o mínimo, ele detém o aval dos antagônicos ex-presidentes Lula e FHC e dos concorrentes bancos Bradesco e Itaú. Ele conta, ainda, com a admiração tanto de Armínio Fraga, que seria o ministro do tucano Aécio Neves, como do ex-ministro petista Antônio Palocci. Nesta medida, Levy chega o mais próximo possível, no campo político-partidário, do que se pode ter como nome aceito por (quase) todos.

Porém, há igualmente, e talvez com mais peso ainda, uma forte esquizofrenia à volta dele. Quando Levy era ainda apenas um boato, ao virar especulação e até lhe ser dado, pela presidente Dilma, o uso da palavra como ministro indicado oficialmente, ele foi o maior, e para muitos o único, responsável pela euforia que tomou conta do mercado financeiro. A bolsa de valores subiu com consistência nos dias anteriores ao ato da quinta-feira, deixando para trás a depressão de quase todo um ano.

Exatamente porque agradava demais aos investidores, Levy se viu instalado no meio da permanente luta interna do PT. Ele despertou temores de que suas ‘mãos de tesoura’ retalhariam os manequins da vitrine social do partido, esfiapando figurinos como o vistoso bolsa família. Levy entendeu rapidamente o que os petistas costumam chamar de fogo amigo e bastou ele falar – e falar, como ministro indicado, em preservar os programas sociais tão caros ao PT – e pronto! A bolsa, que vibrava a favor, reverberou contra. Pela mesma medida da fala inaugural de Levy, é de se acreditar que os petistas descontentes com a escolha de Dilma programariam uma festa para dançar alegremente ao som de abertura inicial produzido por ele.

Não há sinais de que a instabilidade de opiniões sobre o novo ministro venha a se dissipar com a velocidade desejada pelo Brasil, o paciente que tem pressa.

O remédio certo virá das receitas objetivas a serem escritas pelo novo ministro e praticadas pelo governo. Ao cortar com mãos de cirurgião, isso sim, a grossa gordura das finanças públicas sem picotar a saúde da economia, Levy retomará o consenso ensaiado a seu favor e ultrapassará o tumulto gerado pela dualidade ideológica. Para tanto, com o máximo de tranquilidade possível que se lhe possa conceder, o correto a fazer agora é deixar Joaquim Levy trabalhar. Como dizia Vladimir Ilitch Ulianov, o Lenin, a prática é o critério da verdade.