30/05/2007 - 10:00
Desde os 13 anos, quando contraiu uma hepatite que quase a matou, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, é uma sobrevivente. Mas hoje é politicamente que ela busca sobreviver. O presidente Lula não esconde a sua irritação com entraves que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) tem colocado sobre obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), especialmente sobre as hidrelétricas do rio Madeira. Ela alega que a discussão no governo é a mesma que ocorre em todo o mundo: de um lado, os imediatistas que querem o crescimento à custa da sobrevivência do planeta; de outro, os que dizem que crescer arriscando o futuro da humanidade é uma estupidez.
ISTOÉ – As licenças ambientais do Ibama são um entrave para o desenvolvimento?
Marina – Uma das variáveis do desenvolvimento é a questão ambiental, que é fundamental, se considerarmos que o nosso país tem 58% do seu PIB a partir da sua biodiversidade. Se o nosso PIB depende em mais da metade dos seus recursos naturais, a fórmula mais inteligente de se pensar em desenvolvimento econômico é preservando esses recursos naturais.
ISTOÉ – Mesmo que isso atrase obras necessárias no curto prazo?
Marina – Imagine falar em crescimento se destruirmos a base que permite 50% do nosso PIB. Isso é que seria um entrave para o desenvolvimento. Este deve ser feito sobre bases sustentáveis. A tarefa de proteger os ativos ambientais pode ser difícil de compreender, mas ela é absolutamente necessária. Para que o desenvolvimento se ele não mantém as condições de reprodução da nossa espécie?
ISTOÉ – Isso não é catastrofismo?
Marina – Será? Fiquemos na questão do potencial hídrico. Ele depende de uma série de coisas, como, por exemplo, a preservação das nossas florestas. A destruição delas pode alterar o regime de chuvas, contribuir para o aquecimento global, e isso leva a prejuízos econômicos. O que nós temos que fazer é associar a capacidade técnica com o compromisso ético de fazer as coisas acontecerem respeitando as necessidades das gerações presentes, mas sem negar os direitos das gerações futuras.
ISTOÉ – Mas há uma divergência no governo quanto às questões ambientais.
Marina – Seria um reducionismo interpretarmos essa discussão como uma questão meramente de governo. É um debate mundial, de ter que responder à equação desenvolvimento e preservação ambiental. Os países mais desenvolvidos já nem podem fazer diferente com relação às florestas deles. Nós ainda podemos. O Brasil é uma potência ambiental.
ISTOÉ – Quais são os riscos que envolvem a construção das hidrelétricas do rio Madeira?
Marina – O Brasil tem um grande potencial de hidreletricidade. Mas também tem potencial de energia eólica, solar, biomassa. O potencial hidrelétrico está mapeado. E os empreendimentos são licenciados de acordo com a legislação ambiental, que é muito boa. Queremos que essa legislação seja mais respeitada. No caso do rio Madeira, pelo que significa o rio, pelas complexidades que temos na Amazônia, o processo de licenciamento não poderia ter sido diferente.
ISTOÉ – Mas o relatório do Ibama aponta mais de 700 restrições. Não é um exagero?
Marina – Há problemas com a desova dos peixes, o acúmulo de sedimentos e a contaminação com mercúrio. Essas questões terão de ser respondidas pelo Ministério de Minas e Energia e pelas empreiteiras. Quando eles encaminharem as suas respostas, elas serão novamente analisadas pelo Ibama, com a maior isenção. Não dificultamos nem facilitamos processos; cumprimos as nossas obrigações.