Ao comer uvas roxas, chupe a casca. Nela estão substâncias eficazes contra a hipertensão, doença que traz danos ao coração, entre outros prejuízos. A descoberta, de uma equipe da Universidade do Rio de Janeiro chefiada por Roberto Soares de Moura, será apresentada no Congresso Europeu de Farmacologia na França, em julho.

A relação da uva com o coração sempre despertou curiosidade. Em 1979, um estudo inglês feito em vários países relacionou a mortalidade por doenças nas artérias coronárias, que irrigam o coração, com o vinho tinto. A pesquisa mostrou que quanto maior o consumo per capita de vinho menor a ocorrência de problemas coronarianos. O fenômeno ficou conhecido como o paradoxo francês, já que os franceses, apesar de comer muita gordura, têm baixo índice de doenças cardíacas. O responsável pelo feito seria o vinho, que reduziria o colesterol e agiria contra o acúmulo de gordura nos vasos que irrigam o órgão.

Mas ainda não havia sido estudada a ação do vinho contra a hipertensão. Há dois anos, Moura analisa o poder das uvas com as quais se produzem vinhos e sucos. Ele testou, em ratos, extratos da casca e da polpa da fruta. O da polpa não teve efeito. O da casca teve um resultado surpreendente. As cobaias foram separadas em dois grupos. Ambos foram induzidos a ter hipertensão arterial com uma dieta rica em sal. Um grupo recebeu o tratamento com o extrato da casca da uva. Os que não foram tratados tiveram a pressão elevada de 120 para 200 mmHg. A pressão do grupo que ingeriu o extrato não ultrapassou 150 mmHg. Agora, a equipe quer isolar a substância responsável pela ação anti-hipertensiva para transformá-la em remédio. “Quem sofre de hipertensão e não bebe vinho terá uma alternativa”, afirma Moura. Ele recomenda a ingestão de dois copos de vinho tinto por dia. O estudo é visto com bons olhos pelo médico Décio Mion Jr., do Hospital das Clínicas de São Paulo. “A pesquisa aponta uma alternativa não baseada em remédios para tratar a hipertensão”, acredita.