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Com bom papo e tecnologia avançada, Abdallah roubou fortunas de milionários da lista da Forbes

Os fregueses de um restaurantezinho do bairro do Brooklyn jamais poderiam imaginar que o empregado que recolhia pratos sujos nas mesas era um multimilionário. O homem de aparência humilde tinha milhões de dólares depositados em contas no Caribe, Austrália, Suíça e outros locais ainda não determinados. Também era dono de quatro prédios na cidade e outras propriedades que ainda estão para ser reveladas. Para o gerente e colegas do restaurante, ele era apenas Abraham Abdallah, um gordinho de 32 anos, com o segundo grau escolar incompleto. Mas, para poderosas empresas de investimento, como Merryl Lynch, Goldman Sach e Bear Sterns, ele era Steven Spielberg, George Lucas, Ted Turner, Ross Perot ou George Soros. Para as autoridades americanas, porém, Adballah era um vigarista menor, preso 25 vezes por várias fraudes bancárias.

No dia 23 de fevereiro – depois de uma ação policial que seguiu um script hollywoodiano – descobriu-se que o empregado de múltiplas identidades é também o maior ladrão cibernético de que se tem notícia na história da internet. Munido de tecnologia avançada e bom papo, Abdallah surrupiou fortunas das contas bancárias e cartões de crédito de nada menos do que 217 dos nomes que constam da lista dos mais ricos da revista econômica Forbes.

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“Abdallah é o maior ladrão eletrônico do mundo. Nunca vi nada igual”, disse a ISTOÉ o detetive Michael Fabozzi, que juntamente com seu parceiro Johmal Daise, da delegacia do distrito de Manhattan South, prendeu o elusivo homem das múltiplas identidades. “O esquema montado era complicado, mas ao mesmo tempo simples de entender. Abdallah entrava em contato com as empresas de verificação de crédito e, com um bom papo, convencia funcionários a lhes dar informações sobre futuras vítimas. Aos poucos, ele conseguia dados como número do Social Security (o CIC americano), de contas bancárias, saldos, senhas, etc. Depois disso o vigarista clonava estas contas e passava a retirar fortunas”, explica Fabozzi. Usando os computadores de bibliotecas públicas de Nova York, telefones celulares que dão acesso à internet, números de fax e caixas postais estabelecidas em nome de suas vítimas, Abdallah fazia transferências ou comprava bens que o transformavam num próspero homem de negócios. O esquema veio abaixo quando a ganância – “talvez a tentativa de um último golpe”, diz Fabozzi – o levou, em dezembro passado, a pedir a transferência de US$ 10 milhões da conta de Thomas Siebel, o fundador da empresa de informática Siebel Systems. A firma de investimento Merrill Lynch desconfiou e entrou em contato com o empresário-vítima.

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O detetive e seu parceiro ficaram durante três dias vigiando uma caixa postal no Brooklyn, estabelecida em nome do fundador da Microsoft, Paul Allen. Abdallah usava mensageiros para pegar sua correspondência e depois os enviava em rotas complicadas, para evitar perseguições da polícia. Foi o que aconteceu no dia 23 de fevereiro. O mensageiro foi mandado para um endereço no bairro do Bronx. Lá, deveria entregar o pacote a outro mensageiro que voltaria até o Brooklyn e o deixaria em uma oficina mecânica. Fabozzi e Daise interceptaram a entrega na primeira parada e foram seguindo as instruções finais até chegarem no ponto da desova. Depois de 30 minutos esperando na parada, foram recompensados. Abdallah chegou a bordo de um automóvel Volvo novinho. Ao perceber a armadilha policial, tentou escapar. “Pulei sobre o carro e mergulhei para dentro através do teto solar aberto. Agarrei a cabeça de Abdallah até ele parar. Eu estava de ponta-cabeça, com as pernas ainda para fora da abertura do teto, quando coloquei as algemas nele”, conta o detetive Fabozzi. Não se sabe ainda toda a extensão dos golpes do criminoso, mas já se prevê que ela possa chegar à casa da centena de milhões de dólares. Caso seja condenado, Abdallah deverá passar o resto de sua vida na prisão.