28/03/2001 - 10:00
Os 274 anos de história de Pirenópolis, filtrados por duas semanas de novela das seis, da Rede Globo, compõem o lugar do momento. Palco da novela Estrela guia, a pequena cidade, com sua rica arquitetura colonial e numerosas cachoeiras, entrou no roteiro das agências de viagem como uma das melhores opções do Centro-Oeste. Tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional, a sede do município de 25 mil habitantes incrustado na Serra dos Pirineus (Goiás) mantém-se quase intacta. Das ruas de macadame (pedras aglutinadas), passando por casas centenárias e chegando à igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, a mais antiga de Goiás, Pirenópolis é um passeio ao século XIX. Muito antes de entrar na telinha, a cidade – distante 120 quilômetros de Brasília – já era o destino de nove entre dez brasilienses em busca de uma viagem rápida de fim de semana.
Sempre atraiu o público mais despojado, do tipo “bicho-grilo”, pela proximidade de comunidades alternativas e por reunir hippies de várias tribos. De olho no potencial turístico, com os anos a cidade foi se aprimorando, sem perder o caráter rústico. Hoje conta com uma infra-estrutura de 53 pousadas muito bem equipadas e dezenas de bares e restaurantes. A culinária local é uma atração à parte. Diante da comida típica goiana – como galinhada e arroz com pequi – e da cozinha internacional, é difícil não cometer excessos.
Rico também é o folclore de Pirenópolis. Cinquenta e dois dias depois da Páscoa, a cidadezinha vira o palco das famosas Cavalhadas, uma representação da histórica luta entre Carlos Magno, imperador do Ocidente, contra os mouros que invadiram a Península Ibérica nos anos 800. A apresentação faz parte de um conjunto de celebrações da festa do Divino. Durante três dias, os habitantes se enfeitam com luxuosas fantasias e vão às ruas acompanhar procissões, novenas, bandas de músicas e queima de fogos. Desde 1819 as Cavalhadas são religiosamente comemoradas em Pirenópolis. Em junho deste ano acontecerá a 183ª versão.
Há pelo menos 180 anos a família de dona Maria Eunice Pereira e Pina participa dos festejos. A festa se confunde com a história da sua família e ela cedeu dois cômodos da sua casa para a montagem do Museu das Cavalhadas. “O novo é bem-vindo, mas o que nós temos de mais precioso são as nossas tradições”, garante dona Maria. Em alguns momentos o tradicionalismo dos habitantes significou retrocesso. Como no caso do padre Joel, que proibiu a venda de preservativos na cidade. Os farmacêuticos mais fiéis seguiram à risca a orientação e só voltaram atrás quando o padre foi substituído.