18/07/2001 - 10:00
Corte de Apelações do Chile declarou na segunda-feira 9 que o ex-ditador chileno Augusto Pinochet, 85 anos, está demente. Tão demente que é considerado incapaz de responder ao processo envolvendo o assassinato de 75 pessoas cometido em 1973, na Caravana da Morte – uma perseguição aos inimigos políticos do regime militar instituído por Pinochet. “Esta corte chega à conclusão de que o senhor Augusto Pinochet não se encontra em um estado de capacidade mental que lhe permita exercer com eficácia os direitos e as garantias judiciais que lhe são obrigatórias em todas as etapas do procedimento”, declararam os juízes que arquivaram temporariamente o processo.
Pinochet sofre de diabete, hipertensão e insuficiência cardíaca, doenças que fizeram com que em 1998 fosse liberado, depois de 16 meses de prisão domiciliar em Londres, pela Justiça inglesa, que o considerou muito doente para ser extraditado para a Espanha. Porém, qual insano, em prisão domiciliar, afirmaria que gostaria de ir passear no norte do Chile, um de seus lugares preferidos? Foi assim que seu filho, Augusto Pinochet Hiriart, falou dos desejos do suposto louco e ainda acrescentou: “Ele é um homem de muita energia e agora que recupera sua saúde poderá fazer um passeio.”
Até seus partidários, que foram às ruas de Santiago comemorar a decisão da Justiça chilena, questionam o veredicto. “Meu general não está demente, como declarou a corte”, afirmou o diretor da Fundação Augusto Pinochet, Cortés Villa. O presidente Ricardo Lagos procurou não entrar na polêmica, ao afirmar que “como todas as decisões dos tribunais de Justiça, o Poder Executivo as respeita e não as comenta”.
Na Espanha, o juiz Baltazar Garzón declarou que “ali ninguém o considera louco” e o processo contra o ex-ditador prossegue. Na Argentina, um dia após a suspensão do caso Pinochet, outro ex-ditador teve destino diferente. Jorge Rafael Videla (governou de 1976 a 1981), que já cumpre prisão domiciliar desde 1998, teve sua prisão preventiva decretada por sua participação na Operação Condor (cooperação entre os aparatos repressivos dos regimes militares de Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai nos anos 70 e 80). Enquanto Pinochet escapa da prisão, Videla é o primeiro ex-governante de uma ditadura latino-americana a ser preso. O ex-general argentino Carlos Guilhermo Suárez Mason, que também está sob prisão domiciliar, pode ser extraditado para a Alemanha. Na quinta-feira 12, a promotoria pública de Nuremberg emitiu uma ordem internacional de captura de Suárez Mason.