Pela segunda vez em menos de uma década, a mansão dos Abravanel no Morumbi, em São Paulo, é atingida por boatos de que o casal Silvio Santos e Íris estaria à beira da separação. Na primeira vez que aconteceu – em novembro de 1992 –, eles culparam o ciúme. Desta vez, a crise conjugal estaria ancorada na conversão de Íris à Igreja Evangélica Vida Nova, o que faz dela a mais nova celebridade a integrar o bloco dos neopentecostais. Contrariando uma tradição de abrigar excluídos, a religião, vertente do protestantismo que aportou no Brasil há 90 anos, não pára de amealhar famosos e endinheirados.

As supostas implicâncias de Silvio Santos não têm razões religiosas. O que incomodaria o apresentador é o exagerado envolvimento da mulher com a igreja. Fundada há dez anos, a Vida Nova é uma espécie de templo evangélico voltado para o público classe A. Está instalada num galpão pichado e sem placa, no bairro do Jaguaré, na zona oeste de São Paulo. Isso garante a privacidade dos fiéis, que contribuem com dízimos elevados e provocam o engarrafamento de carros importados na porta. Nos últimos dois anos, desde que se converteu, Íris participa do culto todas as quinta-feiras, pelo menos. Chega em Passat importado dirigido por um motorista e na companhia das filhas Rebeca, Renata e Daniela. De acordo com o sociólogo Ricardo Mariano, autor do livro Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil, é comum que, após a conversão, o fiel mergulhe no mundo da igreja e faça da convivência com outros crentes a base de seu lazer. A pastora Ivonne Muniz, líder espiritual da Vida Nova, é sócia de Íris na Escola do Futuro, em que 40% das vagas são destinadas a adolescentes de baixa renda. Devido à amizade, Íris entrou na congregação e hoje preside um grupo de estudos formado por mulheres. Sua participação, lógico, não se limita a esses encontros. Ela também se submete a uma série de restrições ditadas em apostilas, que impõem distância de atividades como praticar ioga e acupuntura e ouvir rock’n’roll.

Prosperidade – Se os católicos em muitos casos têm relação distante com a religião, os evangélicos são militantes e estão sempre dispostos a converter o vizinho. Além disso, os templos têm se tornado menos sectários e afrouxado as regras. A palavra de ordem que atrai a classe média é a defesa do sucesso e da prosperidade sem culpa. A antropóloga Regina Novaes, do Instituto de Estudos da Religião (Iser), detecta uma nova onda do movimento pentecostal. “Igrejas como a Sara Nossa Terra criaram uma alternativa para quem sofre angústias de carreiras competitivas”, explica. Numa pesquisa sobre a congregação, Regina ouviu um médico bem-sucedido dizer que soube da religião pela tevê e gostou da mensagem, “porque se livrou de se meter numa igreja de gente feia e pobre”. Uma das expoentes do movimento evangélico, Assíria Nascimento, mulher de Pelé, justifica a influência dessas igrejas entre os famosos. “Apesar da fama e do dinheiro, eles ainda sentem um vazio em suas vidas que só o amor de Jesus consegue preencher”, atesta.

É com o slogan de “a igreja das celebridades” que a Sara Nossa Terra ficou conhecida. A cantora Baby do Brasil, a atriz Leila Lopes e a apresentadora de tevê Monique Evans estão entre seus adeptos. Seu principal templo, no elegante bairro dos Jardins em São Paulo, recebe até 800 pessoas aos domingos. Seu trunfo é promover cultos ao gosto do freguês. As pregações são sempre temáticas: um dia para homens, outro para mulheres, o terceiro para casais e assim por diante. Os assuntos são extraídos da psicanálise: auto-estima, crescimento interior, medo, insegurança. A secretária Maria Aparecida da Silva Lucas, 45 anos, foi seduzida pela conveniência da mensagem. “Não precisei deixar de me arrumar, de pintar o cabelo. O bispo sempre diz que já era a idéia de que todo crente é feio, pobre e mora longe”, diz a fiel, que reside em Perdizes, na zona oeste de São Paulo.

A glamourização do pentecostalismo beneficia os próprios templos. A adesão de gente como Rodolfo, ex-Raimundos, é usada como peça de marketing. Na semana passada, ao anunciar a ampliação de sua emissora de tevê educativa ligada à Sara Nossa Terra, os líderes da igreja colocaram Rodolfo como uma possível atração, no comando de um programa gospel. Incomodado com a publicidade involuntária, o músico, que é visto nos cultos dominicais, reagiu: “Não tenho igreja fixa, sou de Jesus. Essa história já deu o que tinha que dar.”