O governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), nem pôde comemorar as últimas pesquisas à corrida presidencial. Segundo números do Ibope, divulgados na quarta-feira 11, ele, com 10%, está tecnicamente empatado em terceiro lugar com Itamar Franco (11%). Ciro Gomes está em segundo lugar, com 14%, e Lula lidera a pesquisa com 32%. Na mesma semana, Garotinho foi alvo de denúncias de fraude em sorteios de carros e casas organizados pela empresa Garotinho Editora Gráfica Ltda. no programa Show do Garotinho que apresentava na Rádio Tupi e na Rede Bandeirantes em 1995. A maracutaia foi divulgada pelo jornal O Globo, com o tempero de gravações de conversas entre o governador e Jonas Lopes de Carvalho – ex-chefe do Gabinete Civil e atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Nas fitas, os dois tramariam como subornar um auditor da Receita Federal. ISTOÉ teve acesso a novas fitas com gravações de diálogos de Garotinho com o colaborador Geraldo Siqueira, hoje vice-prefeito de Campos, em que tramam uma vingança pesada contra um adversário: Aloísio Barbosa, dono do jornal Folha da Manhã, daquela cidade. Na sequência, a religião evangélica, que Garotinho explora politicamente, não prevalece. Ele ameaça estampar na primeira página de um jornal que a filha de Barbosa é viciada em drogas. O governador aponta como autor dos grampos um antigo desafeto, o empresário Guilherme Freire. O empresário nega a autoria, mas admite possuir fitas que comprometem Garotinho. Freire acusa ainda o governador de ter tramado um atentado para matá-lo.

As fitas contendo denúncias sobre os sorteios fraudulentos e o suborno já eram do conhecimento do Ministério Público Estadual, como ISTOÉ noticiou em setembro de 2000. O governador é acusado de ter forjado o capital da empresa a fim de obter autorização da Receita Federal para sortear dez carros e uma casa em seu programa. O conselheiro Jonas e a primeira-dama, Rosinha Matheus, teriam maquiado a situação financeira da empresa Garotinho e tentado subornar o auditor Marcos de Azevedo. Garotinho teria acertado o suborno com Jonas. Rosinha e Jonas aumentaram o capital da empresa, sem provar a existência do dinheiro e nem informar a manobra à Receita. O governador negou o suborno e explicou dois dos sorteios suspeitos. “A ganhadora da casa preferiu o prêmio em dinheiro e a do último carro não apareceu para receber o prêmio”, afirmou Garotinho, ao ser informado das denúncias durante uma visita a uma exposição de fotos do Chacrinha, posando ao lado de sósias do famoso apresentador de televisão, já falecido, que tinha como marca registrada uma buzina.

Na transcrição das fitas, publicada pelo Jornal do Brasil, o governador conversa sobre um possível pagamento de propina. Garotinho também explica a Jonas o que deveria fazer em sua empresa para possivelmente justificar o aumento do capital de R$ 10 mil para R$ 190 mil.

Ao saber do vazamento das gravações sobre sonegação e fraude, Garotinho acusou Freire. “Foi feita por ele, um empreiteiro que eu botei para fora da prefeitura.” O empresário reagiu: “Intermediei muitos negócios para Garotinho. Gravei só nossas conversas para me resguardar.” Desde que as relações com o governador azedaram, os negócios de Freire passaram a sofrer fiscalização rigorosa. Outra fita à qual ISTOÉ teve acesso contém um diálogo entre Jonas e o advogado Antônio Maurício Costa que mostraria a tentativa de Garotinho de intimidar Freire usando a Receita Federal. Freire, 41 anos, fez dinheiro com a empreiteira Tucun, contratada pela Prefeitura de Campos em 1989, na primeira gestão de Garotinho, então seu amigo íntimo. A empresa cresceu e chegou a ter 300 funcionários, faturando até US$ 500 mil por mês. Em 1995, um desentendimento acabou com a amizade, e a empresa passou a sofrer fiscalização rigorosa. Hoje está praticamente desativada.

Em 1997, Freire levou ao MP a denúncia de que Garotinho e seu assessor, Carlos Augusto Siqueira, tramavam sua morte e um processo foi aberto. “Josenildo Ramos, sócio de uma tevê local, me disse que ouviu do ex-policial Luiz Carlos Melchíades que tinha recebido a ordem de me matar. O mandante seria Garotinho”, afirma Freire, acrescentando: “Colaboradores de Garotinho comentaram que ele não chegaria à presidência enquanto eu estivesse vivo.” O processo foi arquivado por falta de provas. No ano passado, ao ser ouvido por ISTOÉ sobre o caso, Garotinho ameaçou processar Freire. “Não sei de processo nenhum”, provoca o empresário. Curiosamente, o soldado Melchíades, excluído da PM por acusação de envolvimento em assassinato, foi reintegrado à corporação em novembro, através de ato do governo Anthony Garotinho.