18/07/2001 - 10:00
Se o governador mineiro Itamar Franco (PMDB) ainda não tem maioria dentro do próprio partido para sair candidato à Presidência em 2002, pelo menos vê o jogo das eleições começar em seu campo. Nas últimas semanas, passaram pela região sul de Minas, a mais rica do Estado, Lula, pré-candidato à Presidência pelo PT, e o presidente Fernando Henrique, ambos de olho na sucessão e tentando minar a área de influência de Itamar. No caso de FHC, o feitiço virou contra o feiticeiro. Quando, na sexta-feira 6, sugeriu que os peemedebistas descontentes com o governo “tomassem o caminho da roça”, iniciou um quiproquó com Itamar que até agora só rendeu bons frutos ao governador. “Quem sabe um dia nós nos encontremos na roça, nessa roça que todos nós amamos, não nessa sua roça dos palácios mundo afora, dos grandes salões que Vossa Excelência costuma habitar, esquecendo o povo brasileiro”, devolveu o peemedebista.
Rápido e rasteiro, Itamar capitalizou mais uma desastrada declaração de FHC. Numa alusão à caipirice mineira, vestiu um chapéu de palha e discursou contra o governo na cerimônia onde se lançou à presidência do partido, na segunda-feira 9. No mesmo dia, na cidade de Varginha, Fernando Henrique liberou verbas de R$ 120 milhões para concluir a duplicação da BR-381, a rodovia Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte. No entanto, os benefícios da visita poderão ser todos de Itamar. Se as obras da segunda estrada mais importante do País terminarem até as eleições do ano que vem, o que é provável segundo estimativas do DNER, os peemedebistas mineiros não deixarão por menos: Itamar deverá assumir a paternidade da duplicação, pela qual é co-responsável. O governo do Estado financia 12,5% da obra, junto com o governo paulista (12,5%), a União (25%) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o BID (50%). Para a cerimônia de liberação da verba, FHC levou uma tropa tucana local. Entre eles, estava o ex-governador mineiro Eduardo Azeredo, abandonado pelo presidente nas eleições de 1998, na tentativa de não criar animosidade com Itamar. Ironicamente, agora Azeredo ajuda FHC, e Itamar atrapalha.
Ressentido – Com chances de chegar ao segundo turno, de acordo com as mais recentes pesquisas de intenção de voto, Itamar preocupa o presidente. FHC não têm um candidato em seu partido que sensibilize o eleitorado. Assim, não ameaça a confortável posição de Lula, líder das pesquisas. Em Varginha, FHC atacou seus principais adversários: insinuou que Itamar é “ressentido” e Lula, “preguiçoso”. Mas o bate-boca não terminou aí. E a sequência coube ao próprio presidente. Em entrevista à rádio Guaíba, de Porto Alegre, na quarta-feira 11, disse que o governador mineiro salta de um partido para outro: “Partido para ele é instrumento para chegar ao governo”, disparou. Itamar respondeu em seguida. “Eu cuido da minha vida. Espero que ele cuide da dele e de seu governo. Particularmente do apagão e da ladroagem que dizem que existe por aí”, revidou. FHC sabe que se Itamar não ganhar a convenção peemedebista, marcada para o início de setembro, deverá mudar de legenda. Tentará sair candidato à Presidência pelo PDT ou pelo PL.
Para chegar ao Planalto, o governador está disposto a entregar o cargo ao vice Newton Cardoso e a comandar o PMDB. Ganhando a presidência do partido, fortalecerá sua pré-candidatura à disputa de 2002. Não é possível prever quais são as chances de Itamar voltar a ser presidente, mas ultimamente ele tem contado com um forte cabo eleitoral, ainda que às avessas. FHC, com suas críticas, vem abrindo espaço para o governador mineiro no cenário político nacional. Caso a curva de Itamar na preferência do eleitorado continue ascendente, Fernando Henrique terá que engolir suas mais recentes considerações, do tipo “Não sou bobo, por isso sou presidente.”
Obra de igreja |
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A Duplicação da rodovia Fernão Dias parece uma novela. Desde o seu início, em 1993, as obras se arrastam. O Banco Interamericano de Desenvolvimento, responsável por 50% do financiamento, e o Tribunal de Contas da União já cobraram resultados do governo. Em dezembro de 1999, a duplicação foi paralisada devido à moratória declarada por Itamar. Só em junho deste ano foi reiniciada a parte mineira da rodovia. Com as eleições se aproximando, os esforços aumentam. Segundo o DNER, em julho de 2002, três meses antes das eleições presidenciais, tudo estará finalizado. Até lá, a duplicação pode render mais discussões entre tucanos e peemedebistas. A julgar pelo que Itamar fez no Diário Oficial mineiro, a briga pode ser boa: apagou o nome de FHC na foto da placa de inauguração de um viaduto. Uma das mais importantes rodovias do País, a Fernão Dias já foi recordista de acidentes. Tem 563 quilômetros e um movimento de 45 mil veículos por dia. O término da duplicação poderá encurtar em cerca de uma hora o percurso entre as duas capitais. No meio do caminho da roça, está a região sul de Minas, onde estiveram Lula e Fernando Henrique na semana passada. Ali, as obras de duplicação da rodovia são sinais de progresso, já que o transporte dos produtos agrícolas da região será mais rápido e barato. |