Quem visita pela primeira vez o Parque Nacional da Serra do Cipó, paraíso ecológico mineiro localizado a 100 quilômetros de Belo Horizonte, se sente quase como um bandeirante em terra virgem. Os 33.800 hectares de mata viçosa, recortada por cânions, corredeiras e piscinas naturais, faz pensar que ali a ação do homem ainda não causou estragos. Também na natureza as aparências enganam. O santuário, que faz parte do cerrado brasileiro, abriga 1.800 espécies de plantas em vias de desaparecer. Muitas, como a Coccoloba cereifera, um arbusto azul e violeta que colore o manto verde, são endêmicas, só existem naquela região. A boa notícia é que parte delas vai voltar a florescer. O Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais reproduziu em estufa 5mil mudas de 20 espécies nativas, como canelas de ema, sempre-vivas, bromélias, orquídeas, pau-santo e quaresmeiras. Elas começam a ser plantadas em outubro, ao longo dos 25 quilômetros da rodovia MG010, que dá acesso ao parque.

O método adotado é a clássica estaquia, mesma técnica utilizada no jardim de casa para reproduzir plantas que pegam de galho. Sementes (óvulo fecundado) e plântulas (embrião) foram germinadas em estufa, dentro de sacos plásticos ou tubetes com porções de terra. O mérito do trabalho é permitir que a recuperação de áreas degradadas seja feita com espécies nativas. Os reflorestamentos na Serra do Cipó e em outras partes do cerrado vêm sendo feitos com espécies exóticas que alteram o ambiente, como o eucalipto, ou as plantas que servem de alimento ao gado, entre elas o capim-meloso, a braquiária e as gramíneas africanas. São essas espécies alienígenas que colocam em risco a diversidade de plantas do já combalido Cerrado brasileiro.

“Elas são invasoras biológicas. Podem, por exemplo, retirar muita água do solo, provocando uma redução de 30% a 70% no volume dos rios”, explica Geraldo Wilson Fernandes, biólogo coordenador do replantio na Serra do Cipó, que tem o apoio da empresa Planta Tecnologia Ambiental. O Cerrado recobre 20% do País, possui dez mil espécies de plantas – 4.400 delas endêmicas – e está entre as 25 regiões biologicamente mais ricas e ameaçadas do planeta. Se multiplicadas, iniciativas como a de Minas podem fazer renascer a savana tropical.