20/09/2000 - 10:00
Em abril de 1996, uma notícia do Brasil correu mundo. Na rodovia PA-150, no Pará, a Polícia Militar matou 19 sem-terra e feriu outros 69. O grupo tinha bloqueado a estrada para pressionar o governo com o objetivo de desapropriar uma fazenda do município de Eldorado do Carajás. A reabertura da via por dois batalhões da PM resultou no massacre. A polícia diz ter atirado em legítima defesa. No dia 14, esta versão caiu por terra. Um laudo minucioso da única fita de vídeo do conflito, feito pelos peritos Ricardo Molina de Figueiredo e Donato Pasqual Júnior, do Laboratório de Fonética Forense e Processamento de Imagens da Universidade de Campinas – divulgado com exclusividade nesta edição de ISTOÉ –, mostra, pela primeira vez, que a polícia atirou primeiro. Foram centenas de disparos de armas longas, rajadas de metralhadoras, num troar assustador, entremeado por um coro de gritos e choro. A sequência, nunca vista, é composta por 33 cenas a cada segundo, impossíveis de se ver num videocassete comum. O leitor poderá assistir e ouvir tudo no site www.istoe.com.br.
Os peritos da Unicamp têm reputação internacional. Produziram laudos decisivos para desvendar a morte de PC Farias, a chacina de Vigário Geral, no Rio de Janeiro, e o episódio da Favela Naval, em Diadema, entre outros casos rumorosos. Na pág. 38, o leitor encontrará um material elucidativo, resultado da combinação de uma perícia meticulosa com uma reportagem de primeira categoria produzida pelo editor especial Mário Simas Filho e pelo repórter fotógrafico Alan Rodrigues. Os jurados do próximo julgamento do massacre de Eldorado do Carajás terão em mãos elementos preciosos para decidir com isenção.