As agulhas de acupuntura conquistaram o horário mais disputado da televisão. Desde junho, milhares de telespectadores da novela das oito Laços de família, da Rede Globo, passaram a conviver com essa prática milenar chinesa. A acupuntura promove o alívio de sintomas e o equilíbrio energético por meio da colocação de agulhas finíssimas em diversos pontos do corpo. Quem dela se beneficia na trama é a protagonista Helena (Vera Fischer), que para relaxar se submete às agulhas do médico Laerte (Luciano Quirino, ator e bailarino, que já usou a técnica para tratar dores musculares). O método serve ainda para temperar o charme do galã Edu (Reynaldo Gianecchini), médico recém-formado que pensa em se especializar na terapia.

O espaço conquistado pela acupuntura no horário nobre reflete o aumento da procura por essa opção em hospitais e clínicas. Nos Estados Unidos, registrou-se no último ano uma evolução de 40% no emprego da técnica. Entre os brasileiros, sua popularidade aumenta. A procura cresce junto com as filas de espera. Em São Paulo, por exemplo, o ambulatório de acupuntura do Hospital do Servidor Público Municipal atende a cerca de três mil pacientes por mês. Na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o serviço de acupuntura, criado em 1998, tratou mais de oito mil pessoas e garante bons resultados no controle de dores nas costas, tendinite e cefaléia. E, no Rio, o governo lançou normas de qualidade para o atendimento em hospitais estaduais. A acupuntura está assimilada e virou curso de especialização das faculdades de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), da Unifesp e de Taubaté, entre outras de renome.

Ricardo Giraldez
O ator Luciano Quirino também faz acupuntura para se tratar

A terapia ganhou tanta importância que diversos centros de pesquisa investigam seus mecanismos de funcionamento. Um dos estudos mais recentes, feito pela Universidade de Yale (EUA), revelou que as agulhas ajudam dependentes de cocaína a largar a droga e a se manter longe dela. Outra pesquisa, do físico coreano Zang-Hee Cho, da Universidade da Califórnia, mostrou como algumas áreas do cérebro reagem à aplicação das agulhas.

Além de aumentar o número de fãs da prática chinesa, a novela alfinetou um ponto sensível: quem pode manipular as agulhas no País? Parte dos acupunturistas não gostou de ver na telinha a terapia exercida apenas por médicos. “Deu-se a entender que ela só pode ser aplicada por quem é formado em Medicina”, afirma Nelson Rosemann, fisioterapeuta e acupunturista de Curitiba. O especialista Duk Ki Kim, da Escola de Medicina Oriental, de São Paulo, concorda. “Não há regulamentação restringindo essa prática aos médicos”, afirma Kim. O autor da novela, Manoel Carlos, diz que a sua obra não toma partido. Atualmente, existem duas propostas de regulamentação da profissão, que dependem da aprovação do Congresso Nacional. A Associação Médica Brasileira de Acupuntura (Amba) sustenta que médicos, dentistas e veterinários devem ter exclusividade no método. Outra parte da categoria quer ampliar o direito a todos os profissionais da área de saúde (como enfermeiras e terapeutas) que tiverem feito curso de especialização.

Critérios – Discussões à parte, a divulgação na tevê agrada aos especialistas. “As informações estão corretas. Mais gente vai conhecer as indicações da técnica”, afirma o médico Paulo Farber, da Liga de Acupuntura da USP. A exposição na faixa nobre agravou, entretanto, o receio de que aumente o número de pessoas despreparadas que se julgam aptas a trabalhar nessa área. “Há quem prometa curar doenças que o método não trata. Ele não faz milagres”, alerta Ruy Tanigawa, da Amba. Mal colocadas, as agulhas podem causar desde irritações na pele até problemas mais sérios, como lesões em vasos sanguíneos e órgãos. Na dúvida, recomenda-se utilizá-la apenas em situações nas quais o seu desempenho é bem conhecido (leia o quadro ao lado). O usuário precisa se proteger. “Procurar saber mais sobre a formação do profissional é uma maneira de se evitar os aventureiros e selecionar um acupunturista competente”, orienta o terapeuta Luiz Vicente Spinosa, do Centro de Estudos de Acupuntura e Terapias Alternativas, de São Paulo.