Mesmo não tendo alcançado os alto-falantes do escândalo dos Sex Pistols, o grupo inglês Buzzcocks, nascido em Manchester, em 1975, é considerado um dos pilares do som punk. Copiada à exaustão por todos os conjuntos que se seguiram, a banda de Pete Shelley (guitarra), Howard Devoto (vocais), Steve Diggle (baixo) e John Maher (bateria) – a formação clássica dos Buzzcocks – realizou apenas 11 concertos ao vivo, mas entrou para a história ao lançar de forma independente Spiral scratch, seu primeiro EP, que para os mais velhos é o velho compacto duplo. As músicas deste disco estão incluídas em Time’s up, álbum de 11 faixas que finalmente chega ao Brasil, 24 anos depois de ter sido gravado em apenas um dia e vendido como pirata pelos próprios integrantes dos Buzzcocks. Oficializada em 1991, a edição traz nove composições de Shelley e Devoto, além dos covers de I can’t control myself, da banda sessentista The Troggs, e I love you, you Big Dummy, de Captain Beefheart.

Breakdow e Friends of mine, ambas tiradas do histórico EP, são prova de que o estilo punk não era tão limitado quanto se pensa. O vocal à maneira de John Lydon, o antigo vocalista dos Pistols, que também tem um forte sotaque cockney, é cheio de malabarismos tonais. A guitarra que o acompanha é distorcida e afinada em tons mais baixos, enquanto a batida tribal e o baixo semitonado adiantam o que o Metallica faria só uma década mais tarde, e que seria considerado revolucionário. Os Buzzcocks ainda lançam discos sob a chefia de Shelley e Diggle, que não alcançam em qualidade o brilho furioso de Time’s up, criado em coloridos dias de anarquia no Reino Unido. Naquele momento, metade dos anos 70, as palavras de ordem eram a descrença no futuro. Nem de leve imaginavam que estariam sendo ouvidos e discutidos no início de um novo milênio.