Pedro Oswaldo Cruz
Cosme Velho, de Karl Linde: casario colonial e natureza exuberante

Em 180 obras, entre pinturas, aquarelas, gravuras, álbuns e livros raros reproduzidos por artistas estrangeiros, está sendo possível conhecer muito do que foi o Rio de Janeiro colonial, com sua gente, costumes e paisagens. Elas fazem parte de um primoroso conjunto de 3.500 peças que o empresário Paulo Geyer e sua mulher Maria Cecília doaram, em abril de 1999, ao Museu Imperial. O acervo agora vem a público na bela exposição Visões do Rio na Coleção Geyer, em cartaz até 17 de dezembro no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. Considerada pelos especialistas como um dos mais importantes patrimônios brasilianistas, a coleção começou na década de 30, quando a arte histórica brasileira era olhada com desdém pela elite tupiniquim. A intenção do empresário é exibi-la no futuro Museu Geyer, em sua casa, no Cosme Velho, zona sul do Rio, onde há quadros pendurados até no teto, tamanha a quantidade de obras de arte.

Pedro Oswaldo Cruz
Panorama da baía do Rio de Janeiro, de Sunqua: licença poética

Entre tantos trabalhos que dão uma boa idéia do Rio sem seus edifícios e avenidas alargadas, há uma tela panorâmica, sem data, de um pintor anônimo, que proporciona a melhor visão do incipiente processo de urbanização da cidade entre os séculos XVIII e XIX. Nela, os bairros ocupados pelo casario colonial aparecem entremeados pela exuberante natureza que sempre caracterizou a cidade. A mostra também proporciona ao visitante o prazer de admirar paisagens que não mais colorem seus recantos. No óleo Praia da Lapa e Morro do Castelo, de 1840, pintado por Félix Emile Taunay, por exemplo, vêem-se banhistas se aventurando pela hoje inexistente praia da Lapa, com o morro mais tarde extirpado ao fundo. É de igual destaque o surpreendente óleo de 1830 do chinês Sunqua, cuja presença no Rio nunca foi sequer confirmada. Panorama da baía do Rio de Janeiro retrata a silhueta
da Baía de Guanabara povoada de embarcações orientais. É uma espantosa licença poética, mas com resultados surpreendentes.

O passeio pela história da cidade ainda revela nas aquarelas de Johann Moritz Rugendas como era descontraído o ambiente dos escravos, quando estavam a salvo das chibatas de seus donos. Batuque e Jogo de capoeira são exemplos da alegria de viver dos escravos em contraste com a afetação dos senhores, retratada
pelo inglês Henry Chamberlain em Uma família brasileira, de 1822.