Bob Wolfenson
O violão como
semente

Sempre que os Titãs entram em férias, os projetos individuais de seus componentes saem das gavetas. Agora, quem inaugura a temporada é o baixista Nando Reis com seu segundo álbum-solo Para quando o arco-íris encontrar o pote de ouro, reunindo canções compostas entre 1996 e 1999, que o músico preferiu guardar para um momento mais oportuno. Munido de um violão folk de corda de aço, o titã cercou-se de uma banda básica – baixo, guitarra, bateria e teclados –, composta de brasileiros e americanos, e foi gravar em Seattle, Estados Unidos, terra do movimento grunge, com a participação do guitarrista Peter Buck, do R.E.M. O resultado é um rock urbano e confessional. Algo como um Bob Dylan tropicalizado.

Nando Reis é um ser do asfalto. Canta com o despojamento de um roqueiro, sacrificando tranquilamente a rima pelo efeito, o que fica claro em Frases mais azuis ou No recreio. Sempre que pode, recorre às banalidades do cotidiano como na canção Eles sabem. Nosso amor parece uma mistura do poema Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade, com a música Boas-vindas, de Caetano Veloso, sem nenhum desabono à similaridade. Como ele gosta de referências, o quinteto de cordas do arranjo de Relicário remete aos Beatles sob a batuta de George Martin, enquanto Hey baby, com participação nos vocais de Cássia Eller e Rogério Flausino, do Jota Quest, é pura jovem guarda. Mas é no exercício do violão que revela com mais intensidade sua personalidade musical-solo. Seu ex-colega de Titãs, Arnaldo Antunes, inclusive disse que o recorte rítmico das levadas é o eixo dos arranjos e a semente sonora. São canções desconcertantes na primeira audição, mas que aos poucos vão se insinuando até formarem um conjunto inteligente e agradável.