Helcio Nagamine
Concisão em chapas adquiridas de siderúrgicas

São raros os artistas que, aos 80 anos, dispõem de fôlego para inaugurar nova etapa de uma obra consagrada. Pablo Picasso foi um deles, prolífero até morrer com 91 anos. O mineiro de Paraisópolis, Amilcar de Castro – considerado por muitos o maior escultor brasileiro em atividade –, parece seguir o exemplo de longevidade do gênio espanhol. Em junho passado ele completou oito décadas atestando sua inoxidável vitalidade vista agora na ampla exposição Amilcar de Castro – 80 anos, constituída de seus trabalhos mais recentes, em cartaz até 14 de outubro nos dois andares da Galeria Thomas Cohn, em São Paulo. A escolha do espaço é oportuna. Foi lá, no início dos anos 80, que aconteceram algumas das primeiras, e tardias, individuais do escultor, e onde ele também celebrou seus 70 anos. Para acrescentar, Thomas Cohn se coloca entre os fãs mais empolgados de Amilcar. “Seu momento é de plena renovação artística. Suas esculturas estão ainda mais limpas, sólidas e simplificadas, sem perder a coerência com o passado”, opina Cohn. “Ele é o máximo da escultura brasileira.”

O marchand está coberto de razão. As 22 esculturas em exibição, algumas em dimensões avantajadas como a Sem título de 2,10m x 2,60m, que está no jardim da galeria, são exemplos de despojamento e concisão. Apesar de serem feitas de ferro – metal que na arte brasileira se tornou sinônimo de Amilcar de Castro –, as grandes formas geométricas transmitem uma agradável sensação de leveza. Principalmente as que sugerem equilíbrio precário, como se estivessem prestes a despencar. “Ou voar”, como prefere o autor, que adota uma simplicidade tocante para falar do próprio trabalho. Amilcar trafega na contramão dos confetes. Sair de Belo Horizonte, onde mora, e vir a São Paulo, por exemplo, é um fardo. “Não sou de viajar, uai!”, diz, usando a típica expressão mineira. “Não faço escultura para exposição. Exposição é consequência”, afirma ele, alheio ao clima festivo.

Helcio Nagamine
Sensação de desequilíbrio e ferrugem só na superfície

No seu processo de trabalho, Amilcar primeiro traça os desenhos e depois as maquetes de suas esculturas geométricas, nas quais aplica as lições recebidas por grandes mestres como Weissmann e Alberto da Veiga Guignard, com quem aprendeu a desenhar linhas firmes, sem a interferência de sombras. Tal concisão gráfica ele transfere para as enormes placas de ferro adquiridas diretamente das siderúrgicas Usiminas e Açominas, que chegam de guindastes no seu ateliê em Nova Lima, perto de Belo Horizonte. São de um tipo de ferro especial, denominado Sac – soldável anticorrosivo –, que enferruja apenas na superfície, nunca no interior. Para dobrá-las e conseguir as famosas formas geométricas, ora assimétricas
ora arredondadas, recorre ao calor de vários maçaricos. É assim
que Amilcar de Castro doma o metal com a perícia cirúrgica de
um mestre.