13/09/2000 - 10:00
Fotos: Divulgação |
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Tanizaki: sexo revigorado |
Iniciar um diário pessoal em 1º de janeiro talvez seja a mais típica das resoluções de final de ano. O personagem central de A chave (Companhia das Letras, 134 págs., R$ 21,50), livro escrito em 1956 pelo romancista japonês Junichiro Tanizaki, não foge à tradição. Da primeira à última página, o livro alterna trechos do diário de um homem de 56 anos, e de sua mulher, uma senhora de 45 que se recusa a pronunciar qualquer palavra sobre sexo. Antes, durante ou depois das relações matrimoniais. As anotações vão de janeiro a junho. Nestes seis meses, o diário de ambos, marido e mulher, funciona como estimulante erótico. Uma espécie de afrodisíaco para revigorar a relação de duas décadas.
Sem a mesma virilidade da juventude e incapaz de satisfazer o voraz apetite sexual da mulher, o personagem-chave arquiteta um plano arriscado. Sua esperança é estimular o casamento, e o próprio desejo, à custa do ciúme. O jogo entre marido e mulher ultrapassa os limites do tatame onde dormem. Ikuko, a mulher, confessa em seu diário sentir prazer com os esforços evidentes do marido. Todas as noites, sob pretextos distintos, ela se embebeda.
As noitadas regadas a conhaque e ovas de peixe perduram até o limite do suportável. Ikuko bebe para desmaiar. Inconsciente, ou apenas fingindo-se adormecida, só então ela permite que o marido avance alguns sinais proibidos pelos costumes ancestrais de sua família feudal. Nua e alcoolizada, a esposa moralista transforma-se em verdadeira marionete do marido que passa a fotografar cada naco de seu corpo, sempre escondido sob a seda do quimono. O destino das fotos, dos delírios e dos desejos inconfessos é o mesmo: a página inocente do diário, trancado à chave, a mesma que dá título ao livro, uma leitura ágil, estimulante e original.