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Bombeiros recolhem urso em Butler, Nova Jersey, Estado campeão de ocorrências

Que ninguém diga mais que fast-food faz mal à saúde: para ursos ele parece ser uma dieta milagrosa. Até três décadas atrás, a população de ursos no território continental dos Estados Unidos estava à beira da extinção. O problema era tão grave que todos os Estados americanos passaram leis proibindo a caça destes animais.

A medida deu certo: hoje a comunidade ursídea aumentou em 75%, elevando a 700 mil o número desses bichos em todo o país. Essa explosão populacional tem provocado encontros imediatos do terceiro grau entre humanos apavorados e ursos desinibidos e gulosos. Com tanta competição por refeições nos santuários florestais onde deveriam permanecer, os ursos saíram em busca de cardápios mais suculentos em áreas urbanas. Uma invasão que atinge todos os Estados do Nordeste e, somente em Nova Jersey, provocou 1.700 queixas ao Centro de Controle de Animais daquele Estado. “Ursos adoram restos de hambúrguer, rosquinhas, bolos e biscoitos. O que nós chamamos de lanche, para eles é comida de gourmet”, diz Hellen Hang, porta-voz da Guarda Florestal de Nova Jersey. “Eles aprendem rápido e transmitem o conhecimento aos filhotes. Começaram a roubar cestas de piquenique em parques, passaram a arrombar carros em busca de comida e agora atacam os centros urbanos”, diz. É o que se pode chamar de “A vingança de Zé Colméia”.

O problema é tão grande que já causou episódios de paranóia. Alguns hilariantes. No começo de setembro, Elizabeth Luers, uma velhinha de 81 anos da zona rural de Carmel, ao norte de Nova York, trancou-se no banheiro e chamou o serviço de emergência da polícia local dizendo que havia um enorme urso negro em sua varanda. Uma equipe foi enviada ao local para lidar com o problema. E lá se depararam com o bichão refestelado, naquilo que parecia uma típica “siesta” depois de lauto almoço. A primeira providência foi soar a sirene da viatura, seguida de buzinaço. Ursos detestam sons altos e, geralmente, saem correndo. Mas aquele animal não moveu um músculo sequer. Apelou-se a uma vara para cutucar a fera, que permaneceu imóvel.Finalmente um policial corajoso – imaginando que o bicho estivesse morto – aproximou-se para revirá-lo. Descobriu que se tratava de um enorme boneco de pelúcia, colocado ali por brincadeira.

“Ursos negros raramente são agressivos. Os casos de ataques a humanos são raríssimos. Geralmente os bichos evitam os homens”, diz Hellen. Mesmo assim as suas incursões gastronômicas têm provocado não poucas dores de cabeça. Tanto que nesta semana, pela primeira vez em 30 anos, estará aberta a temporada de caça ao urso em Nova Jersey. O Conselho de Caça e Pesca do Estado autorizou o abate de um total de 175 animais. “Essa temporada de caça é assassinato puro”, acusa Wayne Pacelle, da Humane Society of US. “A solução para o problema é fazer com que as pessoas lacrem suas latas de lixo e mantenham os restos de alimento fora do alcance dos bichos. Deixada à própria sorte, a população de ursos diminuirá naturalmente por causa da escassez de comida”, garante.

Nem todos, porém, estão convencidos dos métodos naturais de eliminação dos mais fracos. Chappaqua, subúrbio de Nova York, virou refeitório de uma família de ursos atrevidos. Mamãe urso e dois filhotes arrebentaram a porta de uma mansão e, enquanto os pequenos banqueteavam na cozinha, a matriarca manteve os donos da residência fechados por duas horas numa dispensa. Sem poderem alcançar o telefone, os humanos não tiveram outro recurso a não ser o de esperar o fim da festa. Depois que os bichos glutões provaram as rosquinhas e hambúrgueres, nada mais os manterá confinados ao tédio das amoras e cerejas das reservas ecológicas