13/09/2000 - 10:00
Max G. Pinto |
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Marco Antonio (à esq.) e Vasone orgulham-se de ter “o maior pronto-socorro de São Paulo” |
Ambiciosos, agressivos, megalomaníacos: assim são chamados os empresários Hélio Vasone e Ruy Marco Antonio, donos do Hospital São Luiz, localizado na zona sul de São Paulo. Eles não passam despercebidos a quem atua no ramo de saúde e, daqui para a frente, ficarão ainda mais em evidência. Acabam de anunciar investimentos de R$ 200 milhões. Se fizerem tudo o que planejam, vão passar a oferecer 1.070 leitos, mais que o triplo do que dispõem hoje. Querem galgar posições no ranking dos maiores hospitais privados – atualmente, ocupam o sétimo lugar.
Vasone e Marco Antonio assumiram há pouco o controle do antigo Hospital Duprat, no bairro do Morumbi, e o reformaram completamente para a reinauguração, ocorrida na terça-feira passada. Orgulham-se do pronto-socorro de mil metros quadrados, “o maior de São Paulo” (entre os privados). Dois novos hospitais serão construídos, um em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, e o outro no Tatuapé, na capital paulista. Questionados se estão negociando a aquisição do Hospital Nove de Julho, de São Paulo, respondem: “Estudamos várias propostas, como essa.” O Nove de Julho informa que é sondado por investidores, mas não há interesse na venda.
Pouco fôlego – De onde vem o dinheiro? – questionam os concorrentes. O São Luiz exibe uma rentabilidade boa para os parâmetros do setor, de 10% sobre o faturamento. Esbanja saúde: no final do ano passado, deu de presente aos médicos e suas famílias um cruzeiro de quatro dias partindo de Santos com destino a Santa Catarina. Tal foi o sucesso que este ano a dose vai ser repetida.
Hospital de médio porte, o São Luiz fechou 1999 com R$ 16 milhões em caixa – fôlego insuficiente para o passo que pretende dar. Uma parte dos recursos virá de financiamento do BNDES e outra da entrada de novos sócios. A holding Gulf Invest, do ex-banqueiro Ney Prado Jr, será parceira no hospital carioca e fundos de pensão devem entrar com capital na unidade do Tatuapé. “Queremos ter uma participação minoritária”, diz Vasone. “Nosso objetivo é nos especializar na administração de hospitais.”
O São Luiz tem se destacado no quesito gestão. “Eles sabem onde estão os custos”, diz o consultor Eduardo Perillo. Em 1990, foi criado um projeto para melhoria da qualidade. Os serviços passaram a ser avaliados por quem interessa, médicos e pacientes. Trimestralmente, os melhores funcionários são premiados com tevês, geladeiras, viagens e outros mimos.
Marco Antonio, pediatra formado na Universidade de São Paulo, cuida da parte técnica e Vasone, das tarefas administrativas. Os dois são genros de Alceu de Campos Rodrigues, que fundou o São Luiz em 1938 e morreu em 1972. Possuem 56% do capital. O restante está pulverizado entre as famílias de médicos que trabalhavam no hospital desde sua inauguração. Eles querem criar um grupo com poder de fogo para negociar com os planos de saúde. “Precisamos ganhar escala e nos preparar para enfrentar a entrada de estrangeiros no setor”, diz Marco Antonio.
Aposta na desgraça – Alguns já sucumbiram no cada vez mais competitivo setor de saúde. Renato Duprat Filho não conseguiu dar continuidade ao negócio do pai, o plano de saúde Unicór. E teve de vender o hospital que construiu no Morumbi, agora batizado de São Luiz Unidade Morumbi, porque, segundo os novos donos, investiu em tecnologia de ponta, mas cobrava dos associados uma mensalidade insuficiente para pagar as contas de aluguel do prédio e do leasing dos equipamentos. E agora, a solução é cobrar mais caro? “Os preços vão se encaixar no padrão São Luiz”, respondem Marco Antonio e Vasone.
A filosofia de atendimento de emergência vai ser mantida, mas com adaptações. O Duprat tinha 50% do total dos leitos na UTI “completamente fora de propósito”, segundo Marco Antonio. Com a reforma, esse porcentual cai para 18%. Se antigamente o público alvo do pronto-socorro eram acidentados em batidas de carro, hoje, com a imposição de limites de velocidade praticamente na cidade inteira, a freguesia são vítimas de assaltos. “O forte do pronto-socorro está nas operações de cabeça e pescoço”, afirma Marco Antonio.
Segundo Perillo, os principais hospitais privados, como Albert Einstein, Samaritano e Oswaldo Cruz, almejam o mesmo tipo de cliente “rentável”, aquele que necessita de exames complicados e de cirurgia. “Para esse tipo de negócio prosperar é preciso existir uma fonte crescente de doentes graves”, afirma. O São Luiz pode ser bem-sucedido “momentaneamente”, na opinião do consultor, mas há uma tendência a uma superoferta. Se isso acontecer, sobrará para o consumidor – no caso, o associado a um plano de saúde. É ele que está pagando, no final das contas, pelo investimento em máquinas ultra-sofisticadas.