Com base em fósseis, cientistas descobriram a forma do titanossauro, animal com pele de iguana e peso de três elefantes que comia vegetais sem flores

O Centro de Pesquisas Paleontológicas de Uberaba, no sudoeste de Minas Gerais, está construindo a réplica de um dos maiores – e mais ferozes – dinossauros que já habitaram a América Latina. O titanossauro (Titanossaurity sauropodos) tinha 15 metros de comprimento, seis metros de altura e pesava até 12 toneladas, o equivalente a três elefantes africanos juntos. As patas traseiras, com três grandes garras na frente e uma atrás, eram três vezes maiores que as de um rinoceronte. O animal tinha pele semelhante à do iguana e alimentava-se de samambaias, pinheiros e outros vegetais sem flores. O titanossauro provavelmente viveu na região do Triângulo Mineiro há 65 ou 70 milhões de anos e foi um dos últimos a ser extintos do planeta. A réplica feita de resina, que a partir de dezembro ficará exposta no saguão do Museu Paleontológico de Peirópolis, na zona rural da cidade mineira, é resultado de dez anos de escavações.

Postura – A coleção de fósseis inclui algumas vértebras, o fêmur do titanossauro e um crânio, num total de aproximadamente 200 ossos. Foi a partir dessa ossada que os cientistas conseguiram reproduzir o animal em tamanho natural. A réplica será peça fundamental para os cientistas estudarem a postura, a forma de locomoção e as dimensões exatas do animal. “O Brasil tem fósseis únicos, são exemplares desconhecidos no planeta. Os achados quase sempre representam novas espécies e novas famílias de dinossauro”, destaca Ismar de Souza Carvalho, presidente da Sociedade Brasileira de Paleontologia. O quadrúpede titanossauro viveu no período cretáceo, entre 144 e 66 milhões de anos atrás. Outros fósseis do mesmo animal foram achados em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Paraíba. No Maranhão, encontraram-se apenas pegadas, mas nenhum resto ósseo.

A construção da réplica do maior dinossauro brasileiro custou R$ 15 mil, financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais e pela Prefeitura de Uberaba, e reúne algumas “feras” brasileiras. Da equipe fazem parte paleontologistas de São Paulo, Minas Gerais e do Rio de Janeiro, além de nove profissionais que trabalham na coleta e limpeza do material. Pode parecer pouco, mas é o maior time em atividade regular no Brasil. Os cientistas saem a campo entre os meses de maio e novembro, quando chove menos na região de Uberaba, segundo maior sítio paleontológico da América Latina. Só perde para a Patagônia argentina.

Jogo de bocha – Como é comum acontecer, a descoberta dos primeiros fósseis em Uberaba foi obra do acaso. Ocorreu em 1945, quando trabalhadores abriam um trecho da ferrovia que cruza o povoado mineiro de Peirópolis, a 480 quilômetros de Belo Horizonte. O achado foi comunicado ao então presidente do Departamento Nacional da Produção Mineral, Llewellyn Ivor Price, geólogo e paleontólogo filho de mãe brasileira e pai americano, que dá nome a um dos principais centros de pesquisa paleontológica do País. Ao examinar o material, Price logo identificou a ossada como sendo de um dinossauro do período cretáceo. Na viagem que fez a Uberaba para visitar áreas de exploração de cal, Price ficou impressionado com a grande quantidade de fósseis no solo de Peirópolis. O pesquisador surpreendeu-se também ao ver um grupo de operários utilizando o primeiro ovo de dinossauro encontrado na América do Sul como se fosse uma bola de bocha, espécie de boliche à moda italiana. Os ovos de 15 centímetros tinham casca muito dura, para proteger os filhotes.

Além do Triângulo Mineiro, o Brasil tem outros pontos de importância paleontológica, concentrados nos Estados do Rio Grande do Sul, Mato Grosso, São Paulo, Paraíba e Ceará. Diante das grandes dimensões do País e do enorme período de sobrevivência dos dinossauros na Terra, a Sociedade Brasileira de Paleontologia considera que ainda é pouco o que se sabe sobre o gigante titanossauro que viveu em território brasileiro.

Os primeiros vestígios da existência de dinossauros no Brasil foram encontrados em 1897, quando o agricultor Anísio Fausto da Silva identificou pegadas estranhas no leito seco de um rio que passava nos fundos de sua propriedade, na cidade de Sousa, sertão da Paraíba. Sem saber do que se tratava, Anísio batizou a trilha de “rastro da ema”. “Setenta e três anos depois, o cientista italiano Giuseppe Leonardy constatou que a tal ema era na realidade um dinossauro, que há 130 milhões de anos imprimiu na lama a marca de suas patas. Foi a primeira evidência de que já houve dinossauros no Brasil”, revela o paleontólogo Reinaldo José Berniti. Hoje sabe-se que eles se espalhavam pelo País inteiro. A primeira descoberta de fóssil comprovada cientificamente ocorreu em 1942, no Rio Grande do Sul. “Há ainda muito a se descobrir sobre os dinossauros que viveram em solo brasileiro”, diz Berniti